30.5.20

A Gaffe distanciada social


Mas pode ver-nos e ficar pertinho de nós através das aplicações informáticas que tem ao dispor! ...
- Eu sei. Já desinstalei todas as que conhecia.

Mana

29.5.20

A Gaffe dos fanfarrões


Os psicopatas que lideram parte do planeta, são exactamente os mesmos que nos deixam apenas letras de cordel para poder ler e tragicomédias mortais para viver.

A Gaffe aqui e acolá


Quase um mês depois - mais dia, menos dia -, a Gaffe já é capaz de colocar frente a frente as duas plataformas que a apoiam. A primeira há imensos anos, esta muito mais imberbe.

É bem verdade que esta menina irrequieta não descansava enquanto não experimentasse passear nos domínios do vizinho e, com a urgência de descontrair um bocadinho mais que o habitual, tentar fazer dançar os malabarismos dos códigos nas entranhas do desconhecido.

É evidente que esta rapariga esperta não consegue dispensar a antiga, acolá, e a nova aqui. Pensou manter rabiscos nas duas, colocando numa as suas cuesias, o azeite das suas receitinhas de bolinhos e da playlist, e na outra uns desabafos mais intimistas, uns olhares desconsolados para o mundo que a rodeia, as tragédias caseirinhas que a vão apoquentando, mas admite que baloiça, não se decidindo qual a mais adequada às suas andanças de etiquetas. 

São manifestas as pequenas diferenças entre estes seus dois amores.

Certa é a facilidade com que, aqui, se manipulam as características do blogue, como se altera o seu aspecto, como se manuseiam os segredos dos códigos e os mistérios do CSS. Por estranho que possa parecer, as reviravoltas codificadas são mais fáceis de dar aqui do que acolá. É muito importante este dado para uma rapariga volátil, inconstante e incapaz de deixar sossegadas as entranhas dos templates. A Gaffe arrancou os dentes às nuances originais do tema escolhido aqui e cravou a dentadura que entendeu, sem ter de usar o berbequim ou a broca do esgotamento mental. Um ponto a favor para aqui.

Jogando a favor do acolá, encontra-se a facilidade de interacção disponibilizada. No aqui é miserável, distorcida e incompleta, repleta de falhas que dificultam ou impossibilitam mesmo os comentários de quem quer que seja. Um horror que a plataforma tem tentado suprir, apoiando o utilizador com algum distanciamento - que não convence por ser demasiado gelado e demorado - e que contrasta com a atenção, a disponibilidade quase imediata, o carinho, o respeito e o profissionalismo da equipa SAPO.

Convém referir, no entanto, que as tão elogiadas – e verdadeiras - comunidades que se vão fomentando ao longo dos avanços do tempo, existem comprovadamente aqui, apesar de mais cerradas e talvez mais imperceptíveis. Encontramos fidelidades, lealdades, fascínios perenes, amizades e cumplicidades, em todo o lado. Aqui talvez sejam mais difíceis de construir do que aqueles que se solidificam acolá, provavelmente devido às possibilidades que a equipa SAPO vai oferecendo, com, por exemplo, as rubricas tags, desafios, mais lidos, últimos posts e destaques.

Seja como for, a constância, a persistência da interacção e a identificação de grupo, são essenciais às duas plataformas como troca de opiniões e de gestos assíduos. Quer numa, quer noutra, a presença das nossas florinhas nos canteiros dos vizinhos, através de carradas de comentários tantas vezes tontinhos, é facilitadora de fidelizações, fomentando a criação de círculos que muitas vezes se tornam difíceis de quebrar. 

Uma outra característica que é útil sublinhar tem a ver com os escritos.

Aqui escreve-se extraordinariamente bem. Talvez se escreva melhor do que acolá. A quantidade de blogues que surpreendem pela qualidade literária da escrita - ou pelo maior gosto com que os lemos, dado que não somos críticos literários com pergaminhos firmados para sustentar a primeira afirmação – aparenta estar aqui em número superior. Não desmerece, não desvaloriza, não menospreza e não diminui, de forma nenhuma, o que se escreve acolá, mas, há que assumi-lo com frontalidade, os textos lidos aqui parecem mais trabalhados, mais cuidados, do que aqueles de acolá. Alguns encontram-se na selecção exposta na barra lateral destas Avenidas que reúne um pequeno número dos que são os mais fantásticos autores que se encontram pelas esplanadas alheias - Pese embora um dos meus marinheiros favoritos estar de licença sabática. Seria muito interessante revelar as faixas etárias que maioritariamente escrevem aqui e acolá. Suspeita-se que a qualidade literária se alia à maturidade literária e as duas são consequência também da maturidade do autor. Provavelmente acolá os jovens são em maior número. Como a juventude é quase sempre um ponto a favor nas futuras andanças do destino, nos empenhos de alegria, nas revoltas e mudanças, talvez acolá se encontre uma promessa de vitória. 

Posto isto, meus amores, a Gaffe vai para dentro que está demasiado calor para se ficar aqui à toa esperando que Godot surja acolá, numa rajada de vento inconstante e fresco.

28.5.20

A Gaffe desprende-se


A Gaffe reconhece que é difícil carregar a imagem de um flâneur, com a poeira de uma rêverie em que o desprendimento e a ausência de uma raiz sólida e de uma nómada espécie de sonho, são óbvios e deslumbrantes.

No centro de um apertado gabinete rotineiro e quotidianamente banal, não há lugar para rasgos de ousadias viajantes, mas é importante que, pelo menos durante os nossos quinze minutos de fuga, sejamos capazes de escapar aos chuviscos baços que se arrastam tombando nos relógios e partir para lugar incerto, mesmo que não consigamos escapar à papelada inútil que de gravata se sobrepõe à nossa vida.

25.5.20

A Gaffe no Reino Profundo



- Ah! Não sabia que esse senhor é gay!

- É compreensível, minha cara. O homem esteve tanto tempo enfiado no fundo do armário que o tiveram de ir buscar a Narnia.

Mana 

22.5.20

A Gaffe vai "desconfinando"


É interessante verificar como um aumento de temperatura e uma tarde mais ensolarada, despertam nos rapagões a vontade de se irem despindo, tornando o dia mais solto, mais aberto e muito mais desconfinado.

A Primavera, no desnudar de potentados, é sem dúvida muito mais rápida do que eu!

21.5.20

A Gaffe distanciada


Acaba por ser adorável ver o desgrenhar bipolar das autoridades que regulamentam e policiam as areias e os areais dos seus súbditos, enquanto incentivam o assalto massivo ao consumo nos Centros Comerciais, plantando-se de shorts e t-shirt à porta da Zara desta estranha pandemia. 

A contradição deve com certeza estar inscrita nos rol dos mais desconhecidos Direitos do Homem.  

20.5.20

A Gaffe timbrada


Às vezes a minha liberdade tem o timbre dos chicotes, ou de cascos de cavalo, ou de facas. Destrói as palavras e nas palavras desconstruídas é lapidado o amor com a minúcia dos joalheiros que só na mudez conseguem facetar a luz dentro das pedras.

19.5.20

A Gaffe et la maison d'Iris


 Nem todos os dias de clausura covídica estão perdidos quando, perante a perspectiva de um passeio passado pelas redondezas, optamos por ficar no quarto a ver paisagens às janelas.



18.5.20

A Gaffe manipuladora

Kocsis Zoltán

Manietar um homem, colocando-o à nossa mercê, é em simultâneo provar-lhe a segurança e o destemor que possui, embora não lhe permite confiar de modo cego naquela que o sabe indefeso.

Aquele que se entrega confiante às fitas de veludo com que lhe atam a alma ou os pulsos, não é o mesmo que se deixa apenas cegar pelo cetim dos dedos de uma mulher. 

O primeiro, atravessa o abismo. O segundo apenas o intui, mas sem ter asas para o ultrapassar.

16.5.20

A Gaffe ilustrada

O modo como se vive o distanciamento físico e o confinamento em tempos de pandemia pode ter um reflexo terno, quase poético, ingénuo, ou bem humorado dentro dos olhos da ilustração.

Mesmo que o primeiro caso date de 1933, é fácil perceber, pelos poucos exemplos escolhidos, que a capacidade de criar, de se ser capaz de tocar o outro através do traço, da cor e do coração, é mais do que suficiente para não permitir que fiquemos sós.

Heath Robinson
Martina Heiduczek
Felix Diaz
Alexander Shmidt

15.5.20

A Gaffe à cintura

A Gaffe interessa-se por cintos.

Há um certo fascínio nas fivelas, sobretudos nas mais clássicas, nas linhas, nos rectângulos ocos de metal, nos estiletes rombos, nos arredondados espetos que se enfiam nas luras do couro envelhecido.

A Gaffe gosta de fazer deslizar de forma lenta a língua do cinto do elo que a prende, da argola gasta que a segura.
A Gaffe gosta de assistir ao desvendar do primeiro botão depois de aberta a fivela e da promessa contida na redonda pétala que aperta e que cobre o princípio da nudez que vai abrindo.

Não é seguro que a Gaffe se mantenha solta da presilha desta inconfidência, mas uma rapariga esperta sabe que uma metáfora é a mais resguardada forma de se prender a verdade a um adejo.
   

14.5.20

A Gaffe e um tesouro naufragado

PPQ bracelet

Não é aconselhável a raparigas minúsculas e preocupadas com o facto de não constar na lista dos adereços da estação mais recente, porque esta fabulosa pulseira de resina grossa, para além de ser referenciada em 2011, é relativamente pesada e não convém partir um osso batendo com ela nos tornozelos.

É, no entanto, um acessório deslumbrante que lembra tesouros afundados que a água aprisionou, fechando em transparências oceânicas jóias perdidas para sempre.
A peça de resina, pérolas e ouro, a prisão que sugere um quase naufrágio antigo e já esquecido, arrasta consigo a sombra de uma história quase dramática, trágica de tão perfeita.
 
Um dos maiores fascínios de qualquer objecto passa também e sobretudo pelo facto de despertar nos outros a capacidade de divagarem e de se perderem nas imagéticas paisagens que povoam o sonho.


13.5.20

A Gaffe muito Zen


- Claro que sou paciente!
... Sobretudo quando há testemunhas.
Mana

12.5.20

A Gaffe perversazinha



Dizem os entendidos que o amor se vai construindo também com as incongruências individuais - com os erros que se comentem, com as idiossincrasias latentes ou declaradas, com os pequenos crimes que cada um é capaz de assumir, com as mais banais sujidades, com os mais tristes segredos e mais pequenos vícios sem tragédias -, de cada um dos amantes, que deixaram de ser vistos como elementos que condenam, revelando-se como meios de transcendente superação.

Esta colecção de pequenos pecados é vista como factor de solidificação do amor, ao lado dos unicórnios e dos arco-íris dos episódios mais felizes e dos encontros mais favoráveis e nada conflituosos. 

Amamos também quando não existe repulsa, negação, ou revolta, em relação àquilo que sempre condenamos no outro que não o nosso par amoroso. 

Gostamos até do gato que veio com ele sabendo que nos provoca alergia. Gostamos até das pantufas com ursos de peluche que chegaram com ela. Não nos corrói a paciência perceber que o comando da televisão está sempre cravado nas profundezas das almofadas do sofá. 

Dizem os entendidos. 

No entanto, as minúsculas passagens de nível, os sub-reptícios desagrados, as pequenas inconveniências, os pequenos vícios, as minúsculas asneiras que dizem ser elementos que inexplicavelmente contribuem para a coesão da fortaleza do amor, não são de todo essa argamassa. 

São a médio prazo destrutivos, arrasadores e operam tamanha erosão nas almas envolvidas que acabam, na melhor das hipóteses, por transformar em amáveis desconhecidos - ou sócios, ou condescendentes inquilinos das mesmas divisões, amigos para toda a vida -, os indivíduos que realmente se amavam.

Nada, nem nenhuma emoção benfazeja resiste a um constante embate de pequenos contrários que apenas se atraem para colidir de modo desgastante. 

Este descalabro, e consequente reconhecimento do fracasso da relação, é provocado por minudências agressivas e estreitos embates de contradições e de negações do outro e agudiza-se quando a distância - qualquer distância, física ou outra - é anulada de modo brutal e involuntário por razões externas. 

Longe da vista, pode não ser um inevitável longe do coração, mas furar os olhos do outro com a nossa constante presença que torna ostensivos os nossos mais secretos percalços, desvios e perversidadezinhas, provoca demasiadas vezes a derrocada de qualquer edifício emocional. 

Os novos heróis - os outros heróis - são agora são também aqueles que após confinamento resistem ao recomeço, reinventando mundos e resguardando espaços esconsos dentro da alma de modo a terem a hipótese de esconder do outro as suas reservas saudáveis de perversidade que permitem tocar o amor de forma transparente. 

10.5.20

A Gaffe emergente



Acredito que todos somos capazes de renascer todas as vezes que quisermos.
Se nos deixarem.

9.5.20

A Gaffe achatada



A Gaffe sabe de fonte segura que as vítimas da Covid-19 que Trump, compungido, lamenta mais profundamente são aquelas que, na tentativa de cumprirem o distanciamento social, recuaram dois metros em relação ao próximo e tombaram das margens do planeta. 

8.5.20

A Gaffe sociopata


A Gaffe assume que é uma sociopata.

Durante todo o pouco tempo de passeio por estas novas paragens, esteve sempre presunçosamente a acreditar que nada tinha complicado e que tudo fluiria como é desejo.

No entanto, a Gaffe assume que mexeu e remexeu em ligações interditas, provocando curto-circuitos bastante incomodativos que irritaram compreensivelmente quem por aqui passava e desejava cumprimentar ou comentar.

Suplicando as vossas desculpas, a Gaffe acredita que agora tudo funciona comme il faut e que já podem ligar todas as luzes.