31.7.20

A Gaffe dos banqueiros

Olly Jeavons

Os casos que se vão sucedendo, levam a concluir que Ricardo Salgado foi apenas mais um dos pouquíssimos banqueiros com azar, pois que foi um dos apanhados com as calças na mão. 

Sabendo o populacho que a alta finança aprende com a mesma rapidez com que faz de todos uns porquinhos mealheiros ao serviço dos donos disto tudo, é certo que depressa perceberemos que o Novo Banco já tem os fundilhos definitivamente colados ao rabo.

28.7.20

A Gaffe de fim de tarde

A Gaffe encontrou uma rapariga esperta - embora com um ar absolutamente possidónio -, capaz de apontar com rigor as razões que nos levam a negar o uso da máscara nos tempos que correm.


A Gaffe admite que já viu de tudo, desde senhores que retiram esta lastimável protecção, ou para tossir, ou para ouvir melhor, a senhoras que a emprestam, depois de a ter usado durante alguns minutos, aos maridos que se esqueceram em casa do apetrecho e têm de entrar para comprar o jornal.

A verdade - horrorosa, convenhamos -, é que esta rapariga já desistiu há algum tempo deste mundo vazio e decidiu que o seu reino não será daqui e muito menos das ruas para onde são atirados estes dispositivos de protecção. Está-se completamente borrifando - uma boa escolha de palavra em tempo de pandemia -, para as criaturas que se sentem fragilizadas, submissas, desautorizadas, encolhidas, minimizadas, inseguras e muito saudáveis que a mim ninguém me pega, e ai!, que abafo! se usarem uma das pouquíssimas formas que encontramos para nos defendermos de contágios virulentos.


Morre-se quase tanto a tentar proteger a saúde como a salvar o Novo Banco, para encaramos depois no outro mundo com uma espécie de sucedâneo do excepcional banqueiro a passar por anónimo e a comprar à coisa boa mil e trezentos imóveis ao preço da chuva que tomba nas Caimão; o Sócrates perseguido por ter sido comprado por uma ninharia - pobre do homem que rouba migalhas neste Continente! -; a estupefacção marcelista perante o tudo e o nada que sempre se soube, mas que não se quis dizer; o Bocelli a fechar os olhos à incontestável verdade pandémica, logo ali ao lado da diplomacia de pedinchice humilhante de Santos Silva e do autocarro do amor que não contagia, mesmo a derramar pedaços de gente amontoada.

Não conseguem andar mascarados?

Aproveitem a senhora ministra e tomem com ela um drink no fim da cultura, na varanda da tarde que dá para o desastre.

E comam brioches.

27.7.20

A Gaffe de Havilland


Olivia de Havilland, com 102 anos, fotografada por Laura Stevens em 2018


Há mulheres que possuem uma beleza de tal forma única, de tal modo inteligente, que conseguem embalar o tempo, ao colo, domesticado e ingénuo.

O tempo das mulheres belíssimas é um obediente e dulcificado animal que lambe as mãos à dona, sem se aperceber que traz a morte presa na coleira. 
 

9.7.20

A Gaffe desportista



A Gaffe sempre foi apologista de desportos que não necessitam de grande equipamento.

Uma rapariga esperta pode sentir que está ligeiramente deslocada e segura por um fio num campo invadido por testosterona, mas depressa aprende que por muito exíguo que seja o equipamento há sempre um lugarzinho para colocar a medalha.


7.7.20

A Gaffe de Bolsonaro

André Carrilho


Aconselhando o extraordinário trabalho de André Carrilho, a Gaffe aproveita e deseja que o resfriadinho do senhor presidente seja passageiro.  


3.7.20

A Gaffe opinativa


- É evidente que a sua opinião é importante.
  É uma porcaria inútil só para mim.

Mana

2.7.20

A Gaffe amaliana


Uma das mais pungentes, sofridas e desesperançadas obras-primas da Poesia de todos os tempos é aquela em que Camões pergunta com que voz chorará seu triste fado. 

E a voz com que Camões chorará seu triste fado é a de Amália.

A tradicional estreiteza melódica e harmónica do fado é rasgada pelo comovente encontro da língua portuguesa escrita e dita de forma magistral, transfigurando a palavra e vazando a alma.

Com que voz é Camões e Amália inevitavelmente unidos e é nesse brutal e comovente encontro que o som da Poesia atinge a maior das dores humanas: a de se viver, perdendo. 

   

1.7.20

A Gaffe de Volker Hermes


A tentativa de permanecer num universo lúdico que salpicasse de futilidades e tontices várias o espaço que se tornava fácil alimentar com rabiscos do calibre do actual, fez com que a Gaffe saltitasse de plataforma em plataforma até se ter apercebido que o tédio, o aborrecimento, a impaciência, o cansaço e a indiferença pelas palavras, são imunes a curas e a retrocessos apenas elaborados com movimentos digitais de ancas inúteis e anquilosadas.

A Gaffe apercebe-se que foi crescendo devagar e em silêncio a máscara que lhe boicota a apetência e o motivo para baralhar palavras e nesse encaixar de naipes uns nos outros encontrar o definitivo e único objectivo do seu jogo.


Em toda a extensão das nossas vidas de pequenas escritas, há momentos em que somos manietados pelo desinteresse nos mais pequenos surtos de alegria que a construção precária das frases nos provoca. Sentimos que há demasiado tempo que usamos as máscaras que nos vão iludindo e que nos fazem acreditar que estamos demasiado longe das figuras de Volker Hermes, quando a verdade é que sempre estivemos escondidos nos enigmas da nossa própria realidade.