Há que prestar a maior - a mais matulona -, das atenções ao dominador homenzarrão que se tornou um dos mais sedutores, mais atraentes e mais fascinantes homens certos no lugar certo.
30.4.21
A Gaffe almirantada
Há que prestar a maior - a mais matulona -, das atenções ao dominador homenzarrão que se tornou um dos mais sedutores, mais atraentes e mais fascinantes homens certos no lugar certo.
29.4.21
A Gaffe mesmerizada
A Gaffe deprimida, angustiada e desesperançada, acreditou que já tinha visto tudo, até esbarrar com a sempre bizarra Gisela João a urrar, esbracejar, a praguejar, a vociferar e a rugir impropérios, como se não houvesse tempo e espaço para mais doses de silicone e de imbecilidades na boca, no centro de uma multidão de marionetas borrachonas e exibicionistas enfiadas em alvéolos coloridos.
Uma orgia de bramidos, gritos, uivos e ganidos, misturada com babados e folhosos trapicalhos, rendas e folharecos, lantejoulas, cristais e plásticos aos molhos, luzes e luzeiros, bobos e palhaços trapezistas e um ou dois macacos a tocar tambor.
A Gaffe quedou-se mesmerizada, a um passo da catalepsia.
Nunca esta rapariga supôs possível que uma impostura grotesca e pantafaçuda, almejasse e conseguisse ser um dejectório público e de sinal aberto.
A Gaffe num pormenor
A constância de um detalhe, a permanência de um pormenor, na imagem total de uma mulher - Eventualmente não tanto na de um homem, demasiado desatento às filigranas da vida-, acabam por se tornar uma das chaves do seu charme, do seu carisma, da sua irrecorrível aquisição do lugar de memória, quer no tempo, quer no espaço.
É instintiva, é inconsciente, é maquinal, a forma como uma mulher submete o detalhe a uma servidão que lhe permite apurar a marca definitiva do seu particular feminino. Descura a minudência para a subjugar à sua normalidade. A peculiaridade não extravasa, pois que é refreada pela dimensão de quem a esquece. É fundamental que assim o seja, caso contrário o detalhe absorve o universo inteiro, adquire a imensidão do todo e apaga a mulher que racionalizou, cuidou, sobrevalorizou e se deixou enredar pela singularidade.
Raríssimos são os momentos em que Sua Majestade, a Rainha, surge sem um alfinete de peito colocado com rigor no lugar devido. Noblesse oblige, mas sem permitir jamais que o detalhe seja o soberano.
Consuelo Vanderbilt, duquesa de Marlborough, sempre refreou o rugido das suas exuberantes - e cruéis - estolas de raposa branca.
Frida Kahlo abateu a inestética de uma monocelha.
As mulheres do Douro e Minho acalcanham sozinhas o ouro perseverante das arrecadas.
28.4.21
A Gaffe do mealheiro
27.4.21
A Gaffe esquisita
26.4.21
A Gaffe naufragada
O único momento em que uma rapariga de excelentíssimas famílias deseja sofrer o destino do Titanic é quando embate com um iceberg que escalda, tendo a certeza que vai depois poder usufruir de toda a equipa de socorro, logo ali de bote.
25.4.21
23.4.21
A Gaffe nas manhãs farruscas
- Não vá lá para fora, menina, que o tempo está farrusco. Frisa-lhe o cabelo todo. Então se for, leve a mantinha pelas costas que a manhã está friota.
- Em breve o sol descobre.
Em breve, Josefa, o sol descobre. Por enquanto todas as manhãs são as luas no miar da gata.
22.4.21
A Gaffe de Pedro, o Cru
Abri-o ontem. Respeitosamente. Assustadoramente. Reli-o ontem. Tragédia mui sentida e elegante de Dona Inês de Castro A Castro. A aristotélica obra-prima de António Ferreira, com rastos de Séneca e mesmo de Petrarca. Lugar de dolorosos dilemas que acabam por branquear a figura de Inês, mas que magistralmente dão primazia ao dilacerado Afonso IV que finda por desabar à vontade altruísta e nobre dos algozes - porque o bem-comum, Senhor, tem, mais larguezas com que justifica obras duvidosas -, e que mesmo nauseado pelo relativismo ético e pelas falácias dos Conselheiros, vai ser obrigado a arcar com a responsabilidade de um acto que para sempre o marcará como cínico e calculista. A visão cósmica do poder benéfico do Amor, que, no equilíbrio renascentista, se confronta com a visão contrária, a das suas malignidades. A arquitectura fenomenal da tragédia que tem apenas igual na profunda densidade poética da obra. É uma Arte Poética da tragédia. As esbatidas anotações do meu avô aludem - entre tanto a decifrar! -, a Eurípedes, a Ésquilo e ao extraordinário Coro trágico, às Geórgicas de Virgílio, a Camões e a Petrarca, e é percorrendo os labirintos desta densa e poderosa caligrafia que me encontro nula e nua perante o desmedido saber do meu avô e, assustada, tento preludiar o caminho iniciático da Verdade. Entretanto, Já morreu Dona Inês, matou-a o Amor. |
21.4.21
A Gaffe e a gata
A gata gorda e parda, almofadada e velha, cruzou a pedra da lareira da cozinha, saltou para a cornija e recolhendo a cauda farfalhuda, sentou-se, desvenerando o calor que a lambia, semicerrou os olhos a olhar para mim e permitiu que a dona lhe sorrisse e acomodasse uma carícia na seda da manhosice do corpo.
20.4.21
19.4.21
A Gaffe lenta e fria
O amanhecer no Douro é sempre lento e frio. Um ar áspero, pedregoso e azulado, que rasteja e trepa às árvores, alterando as copas, substituindo-as. As horas do cedo das manhãs do Douro são as que sussurram a lentidão dos bichos tenros. Estão possuídas pelos lutos que nunca se devem erguer de repente, com estertores dolorosos e inúteis como trapos desfeitos pelo uso.