11.4.22

A Gaffe de Cristiano


Não sou fã de nenhum desporto.

Creio que todos fazem suar e os que disfarçam a actividade das nossas benditas glândulas sudoríferas, ou são os praticados na água, ou são os que praticamos mal.
No entanto, gosto imenso de campeões e simpatizo bastante com o Cristiano Ronaldo. Acho-o um tonto e quando o ouço falar fico enternecida e siderada. Chego mesmo a pensar que vou acabar por deslocar o maxilar de tanto o deixar pender com o espanto.
Impressiona-me o facto de ver um rapazinho corpulento e saudável, com talento inegável para o pontapé e uma conta bancária de criar bicho, sem ter quem o ajude, lhe mostre um livrinho e lhe diga cautelosamente que também os há sem quadradinhos, que até  os livrinhos de BD trazem balões com frases completas, e sobretudo sem ter um amiguinho que lhe segrede que não pode dar tau-tau nos adeptos.

Apesar de achar, seriamente, que uma conta bancária hipertensa, uma mansão desenhada pelo Souto Moura - dispenso o Lamborghini e o relógio a condizer -, substituem perfeitamente a obra completa do José Rodrigues dos Santos, fazem esquecer a existência da Margarida Rebelo Pinto, chegam a abafar por alguns minutos o sagrado Saramago e fazem desmaiar por escassos momentos o brilhante pedantismo de Lobo Antunes - é tão bom poder enfiar assim, no necessaire, o pincel e a caneta! - , não posso deixar de pensar que por muita chuteira de ouro - ou bota, ou sapato -, que o rapagão ganhe, Ronaldo parece sempre descalço quando se vê obrigado pelos compromissos assumidos em nome da imagem publicitária que o encharca em dinheiro, a desculpar-se por ter tido a maçada de sacudir a mão de um adepto de 14 anos, ainda que ao de leve, levemente, como quem chama pelos filhos, de forma a deixar apenas um hematoma e a partir-lhe o telemóvel.

Cristiano Ronaldo consegue sempre o mesmo que o botox. Agrada seguramente aos fãs que já nasceram ontem, mas não consegue esconder aos mais recentes que existem campos onde há injectado.