Na gaveta da secretária do meu avô, um berlinde de cristal pesado, repleto de fios coloridos, ao lado da carteira em couro sem conteúdo e de papéis dispersos e sem utilidade.
Devo seleccionar o que se guardará.
Apenas manuscritos, apenas rastos de memória, apenas as réstias duradoiras da memória.
Escolho o berlinde de cristal pesado.
Descubro-o nas mãos do meu avô que o erguia contra o sol de Verão. Rolava-o, atravessado pela luz. Reflexos espalhados pelo chão e uma história dentro, de fadas, de bruxas e duendes, na minha infância ainda aqui ao lado.
Descubro-o agora meu, na minha mão sem histórias. Rolo-o erguido contra a luz do sol do meu avô, mas é apenas a sombra o que eu alcanço.