13.9.21

A Gaffe que não é dela


A maioria de nós reconhece que nem sempre um sapo traz um príncipe dentro. Às vezes vem com o Robin Hood, outras com o Xerife de Nottingham ou mesmo com Frei Tuck e, não raro, traz apenas o que naturalmente um sapo tem nas entranhas.

Por muito que esbracejemos e que nos sintamos empurradas para os Harrods depois de termos passado a vidinha enfiadinhas na Zara, temos pelo menos que concordar, meus queridos e minhas donzelas, que demasiadas vezes não entendemos o conceito enfiado na palavra marca quando aplicado às plataformas onde alojamos os nossos bloguinhos.


Estas albergarias, por muito amoroso que seja pensar que são as nossas casinhas, por muito que consideremos da família as equipas que as formam e que são as mais doces, eficazes, atentas, disponíveis e pacientes que existem à superfície da net, ou que reúnem rapazes que se vão transformando no ideal informático - e giro - de qualquer rapariga esperta, não deixam de ser pragmáticas ferramentas prontas a satisfazer os desejos dos consumidores, expandindo em consequência os seu raios de acção, produzindo lucro e transformando-se em parceiras incontornáveis nos tabuleiros dos negócios.  

 

Um clique vale muito mais que mil palavras.

 

É lógico que perdi, com grande pena, muitas histórias, muitas recordações e algumas manigâncias que registava e que usava para serigaitar pela plataforma que abandonei. Ganhei outras e francamente não penso que seja desagradável ou difícil mover-me nesta nova versão.

É lógico que não me agradaram os bugs que não deviam ter surgido entre uma utilizadora e uma de uma equipa de profissionais que recorreu a uma espécie de pretexto legal para me consciencializar que estava a desviar clientes para uma plataforma rival, mas a verdade é que aquilo não é meu! Troco apenas a minha capacidade de provocar cliques - e em consequência aumentar a envergadura e a potencialidade da plataforma atrair publicidade -, pelo uso sem encargos do que me é disponibilizado. É uma transação comercial que não implica de forma nenhuma o direito a reivindicar o que quer que seja, ou a fazer queixinhas e choramingar perante a injustiça que é vermos as nossas galácticas escritas ultrapassadas pela térrea mediocridade, ou esgadanharmos as caixas de cometários, ou as mensagens publicadas, com os pregos da nossa indignação por não nos vermos no cume dos grandes influenciadores digitais, porque há manobras insidiosas que nos boicotam.

Não é verdade. A explicação mais provável é aquela que nos diz que simplesmente não prestamos e que não conseguimos provocar grandes cliques.      

Compreensivelmente, as plataformas que nos alojam obedecem às chamadas leis do mercado e é uma tolice considerar mesquinha - porque gigantesca, zelosa, pesada e incensada - a preocupação em nos fazer respeitar a lei, mesmo sabendo que é da nossa lavra tentar negociar com que nos acusa de eventualmente a desrespeitar -, ao mesmo tempo que permitem impunemente incitamentos à violência, ao ódio racial, ao rancor homofóbico, à difamação, ao insulto mais abjecto, às insinuações mais escabrosos, às teorias de conspiração mais perigosas e destruidoras da dignidade dos nelas incluídos e acossados e ao ataque racista que roça a boçalidade e que se entranha no crime.   

É lógico que, por muito que as meninas rabujem e os meninos estrebuchem, aquilo, meus amores, é deles e as plataformas fazem tudo o que lhes der lucro, assim como também é lógico que a ternura e a doçura, a amabilidade e a disponibilidade, façam parte do pacote que nos emprestam e que usamos aparentemente em modo livre, esquecendo, porque somos parvos, que não há almoços grátis.

Só gatinhos fofos.