William Faulkner - Paris,Novembro 1925, por William C. Odiorne |
Um dos meus amigos favoritos declara com suspeita convicção que o prazo de validade de um homem termina por volta dos cinquenta anos.
A partir dessa idade, o rapagão deixa de seduzir a menina do shooping, ou aquela que vem e que passa num doce balanço a caminho do mar, com a sorte e a facilidade que sempre supôs o coadjuvaram sem aparentes condições.
Atingindo esta proveta idade que, num primeiro relance, os inclui nos potenciais proibidos, pertença do grupo dos casados ou dos gays, um quarentão passa a ser olhado como se tivesse colado na testa o símbolo de risco biológico.
As rugas, ainda ténues, e o grisalho nas têmporas, ainda que de um charme divinal, passam a ser olhados com respeitinho - e o respeitinho é um dos mais certeiros e destruidores ataques à sedução que se conhecem. O cinquentão tende a ser visto como o pai da amiga que, embora deliciosamente atractivo, é interdito, porque não se seduz o pai da Fifi, amiga do peito, e é constrangedor aceitar um bolinho e uma limonada das mãos da mãe da Fifi, uma querida, quando o que aceitamos do marido é bastante menos inocente e nos impede de o desancar quando proíbe a filha de acampar com penosos dias de antecedência à porta de um concerto qualquer onde se fumam cachimbos estranhos, mesmo jurando que Ceci n'est pas une pipe.
Esta assombração que paira nos cinquentões acaba por ser consequência dos mesmos factores que nos condicionam em relação ao nosso corpo que se quer jovem, magro, quase até à anorexia, altíssimo, tonificado, macio, depilado e com um certo vislumbre de divino cravado no umbigo, como o piercing do imaginário.
Formatadas e reprogramadas, acabamos por sentir uma repulsa, uma aversão automática, pelo Kg a mais que subitamente se nos colou às ancas - mesmo que seja esse exacto Kg o que nos transforma em divas capazes de humilhar Sophia Loren – sejamos retro - e para recusar, instintivamente, e sem apelo, os homens maduros, avassaladoramente sedutores, charmosos, solitários e tentadores heterossexuais que por nós passam deixando um rasto de Cartier e uma imagem como aquela que se apensa nos nossos mais recalcados desejos.
Para contrariar este facto, esquecemo-nos que os vícios que caminham para o decadente que alimentamos aos trinta, serão a nossa cara - e as nossas ancas - a partir dos cinquenta e disfarçamos, atravessada a fronteira, recriando imagens pouco dignas, e invariavelmente ridículas, que reproduzem os tiques e as correntes da geração que até há pouco vinha atrás de nós e que agora nos ultrapassa sem piedade.
São as tintas negras que invadem o couro cabeludo, como derrames de petróleo, dos maduros rapagões ecologicamente imaturos e os jeans apertados que prendem camisas cintadas prontas a explodir com a pressão de roliças e proeminentes barriguinhas que se tentam comprimir como nenhum ginásio conseguiu ousar.
São os implantes das entradotas moçoilas que nos fazem duvidar se ainda subsistem as originais perdidas nos esticões e nas intumescências que lhes fornecem uma eternidade que dura enquanto o diabo esfrega um olho - retocado.
É um desagradável acidente tentar reproduzir as imagens juvenis que trespassam a desilusão de quem se vê envelhecer ignorando que o tempo que se vai adquirindo facilita, amadurece e torna visível, o charme sedutor dos experientes.
É um deslize imperdoável não darmos conta que, aos cinquenta, os homens podem fazer tudo o que faziam aos vinte, sobretudo se não se importam de parecer idiotas e que é uma irremissível falta de perspicácia, de inteligência e de bom senso, um mulher tentar ignorar que a única forma de permanecer jovem, é mentindo na idade.