5.4.22

A Gaffe e uma bandeira

Julian Totino Tedesco



Da janela do meu quarto de menina conseguia ver o estado da Nação, ou seja, da janela do meu quarto, via o quarto do Gérard.

O meu amigo abria as cortinas mal acordava e colocava um lenço branco preso às dobradiças. Era sinal de marcha e de juntos venceremos. Tinha visto num filme este código magnífico e desde aí usava-o para comunicar comigo. Quando chovia era um problema. O lenço era de papel e as comunicações ficavam alteradas.

Se não visse aquele pedacinho de palavra disfarçada, todos os dias seriam só a noite. Todas as manhãs o entardecer.

O Gérard, outrora o meu herói, é agora um pacifista. Uma variante livre de Médico sem Fronteiras. Anda pelas ruas das maiores das amarguras, de lenço branco a acenar. No centro de uma guerra. 

Sem janelas.

Herói de tanta gente.

Hoje sonhei com o Gérard.

Trazia na mão o mesmo lenço.