7.4.22

A Gaffe no hipermercado


A Gaffe, prestável e amorosa, acolhe de bom grado a incumbência de comprar o pacote de leite que faz falta ao brutal acervo de mercearia da sua querida amiga.

Atira-se ao caminho e, por ser mais perto, decide entrar num hipermercado. Uma viagem rápida que aparenta não oferecer qualquer risco.

Sofre o primeiro embate quando percorre o corredor que a levará à secção onde brilha leitosa a preciosidade. O rabo da empregada ocupa dois terços da via e quando a mulher se baixa para repor as latas de bolachas na prateleira, acende-se a luz de aviso de obstrução. A senhora lida bem com o facto e parece esperar que as bolachas se movam sozinhas. A Gaffe introduz-se numa frincha e consegue passar dando graças pela sua figura esbelta e ágil.

Caminha agora mais arejada.

A meio do percurso é abalroada por um carrinho que traz apenso um senhor baixinho, de fato de treino, de bigode preto farfalhudo e rabo-de-cavalo oleoso, que implica com os calcanhares dos transeuntes - o carrinho. A Gaffe pensa fuzilá-lo com os olhos, mas percebe que encostado àquele muro não está ninguém. Tenta corrigir a rota alterada pelo empurrão e, já um bocadinho nervosa, empina o nariz e põe-se em marcha.

Ao encontrar a famigerada estante dos produtos lácteos, descobre que o leite está atrás de uma tonelada de garrafões de água e encerrado em plástico que apenas com serras eléctricas se consegue romper. A Gaffe pede ajuda ao primeiro mocetão fardado que por si passa. O rapaz olha-a com nojo, fazendo com que esta rapariga sinta que insultou o papa. Avança com um x-acto, arranca os garrafões do sítio, saca uma embalagem de seis pacotes e atravessa o plástico com um golpe só:

– Quer todos ou só vai um? - A Gaffe amedrontada arrisca levar dois.

Foge e encaixa-se numa fila interminável, porque a caixa para clientes que trazem no máximo seis produtos está obstruída por uma senhora gorda e oxigenada que grita que não tem culpa que o marido e as filhas também ali estejam, atrás dela, cada um com seis porcarias para pagar.

A Gaffe é apertada pelos clientes que se empurram para que pelo corredor que a fila para pagamento ocupa, consiga passar o carrinho do homenzinho que odeia calcanhares. Desconfia que o rapaz com pacotes de cereais e duas garrafas de cerveja não precisava de lhas encostar ao rabo.

Chegada a sua vez, esta pobre rapariga é atendida por uma senhora com unhas postiças a lembrar punhais e carantonha de quem não hesita em usá-los, paga 10 cêntimos por um saco plástico e desata a fugir por ali fora.

Em casa, ainda esbaforida, descobre que se voltou a distrair e que trocou o leite por champagne.

Existem imensas prateleiras que a confundem tanto!