15.4.22

A Gaffe pecadora

Katia Chausheva
Não me retires do corpo o que é pecado.
Deixa-o religiosamente ficar.

Deixa-o beato.

Quero espoliar-me nua nos veludos cardinal, adivinhar incenso nos brancos das rendas já rasgadas, amarfanhar toalhas com bordados e gargalhar nas roxas faixas da Páscoa do teu corpo.

Quero amarrotar os panos da cinta do teu Cristo. Não ser pagã. Pecar como proscrita. Excomungada, nua, espoliada e bicho.

Quero báculos de prata e jóias raras, cálices de nádegas, hóstias de pele, pontas de dedos, paramentos.

Quero morder o corpo do Senhor, beber-lhe a baba e desfazer altares de missa em sol maior.

Quero pecar, esconjurada, renegada por santos sacrossantos e enredar batinas e ensarilhar os mantos, escaldar as preces dos bem-aventurados e depois nua, desfeita em cânticos, fazer jorrar na mesa a tua ceia.