É um homem pequenino, mesquinho, com um ego monumental, ultrapassado e tão confuso que chega a ser olhado com alguma indulgência e ternura pelos pares e pelos supervisionados, o que não deixa de ser humilhante para alguém tão empinado.
Detentor destes miseráveis dotes, o homenzinho acciona todos os alarmes, buzinas e sirenes sempre que é cometido um erro minúsculo e desinteressante. Os grandes erros, agora não os consegue, nem prever, nem corrigir, porque os não detecta. Ninguém avalia o certo e o errado do que não conhece.
Fica-se pela rama.
Foi genial outrora e ainda sobram réstias do talento, mas comete aquelas pequenas falhas que não tendo importância digna de nota, acabam por inflacionar os julgamentos maldosos que dali surgem, sendo corrigidas pelos inferiores que jamais tocarão a bainha daquilo que ele foi, há muito tempo.
Contrariam-no nos detalhes, nos pormenores, nas minudências dos métodos, na ausência de actualização profissional, embora lhe invejem o passado monumental.
Esta espécie de decadência que se vai arrastando e aumentando a olhos vistos e sátira desatada, podia facilmente ser travada com a beatitude dos velhos sábios que se permitem errar e com a complacência e a placidez dos génios que sorriem quando se apercebem que os universos que dominaram, ou criaram, foram tomados já pelos discípulos.
O estatuto de mito é também entregue aos que sabem desistir usando a sabedoria dos que se lhes seguem.
O irritante é que a luta desesperada pela manutenção da autoridade, do reconhecimento, do respeito e pela confiança profissional, levam-no, mesmo quando vagamente contrariado, a agir como um garnizé tresloucado. Grita e espuma e cospe esganiçado uma espécie de tirania patética fácil de ridicularizar.
Quando alguém brada o desespero apelando apenas a um estatuto perdido, invocando as medalhas merecidas outrora, clamando por uma autoridade que reside apenas num reflexo esbatido do atleta que se deixou de ser, saímos do anfiteatro ordenadamente. O jogo acabou. Fecham-se as portas.
Já não há ninguém.