31.10.22

A Gaffe sem pedigree

Gerhard Haderer

Os homens que já passaram dos 40, mas que teimam em vestir-se de hippies adolescentes são patéticos. Não adianta passarinharem de jeans afunilados e t-shirt justa ou de túnicas de linho e bermudas amarrotadas para mostrar que aquela treta da juventude está no espírito com eles funciona. Não funciona, mesmos com aqueles que fazem yoga, levitação, inalam coisas suspeitas e nos dizem que meditam muito.
Ao contrário do que se espera, se tivermos em consideração o visual muito cool, muito casual, muito descontraído e moderninho, estas criaturas são feitas da mesma massa dos inquisidores e suspeito que têm a mesma idade do último se o último ainda andasse por aqui a esturricar as bruxas. Se os deixassem, e se conseguissem, chegariam ao topo desta carreira e desatavam a mandar os desgraçados que consideram envelhecidos para o churrasco, com justificação apensa.

Dão festinhas descontraídas e cultíssimas nas varandas ou nas marquises do andar de cima, com vista para a cidade e para as colegiais, cintilando no centro do círculo de amiguinhos e de amiguinhas que não sentem os canivetes - suíços, claro -, que os patifes lhes espetam nas costas.
Reagem mal quando se lhes bate no vidro do frasco onde se enfiaram, porque não conseguem suportar que no mundo haja mais gente para além deles e cospem quase logo um veneno difícil de detectar porque vem misturado com saliva e treta.
Fazem lembrar a prostituta-cliché que enquanto o cliente apanhado à toa na esquina toma duche, lhe espiolha os bolsos e lhe fura os olhos à mulher, se lhe encontra a fotografia. Só porque sim.

Porque dou importância a esta coisa?

Porque me apareceu na frente um destes homens que me fez sentir como aqui há uns bons dois anos quando entrei em casa, no Porto, e percebi que tinha sido assaltada. Não levaram nada - no apartamento não havia, como ainda não há, nada que um ladrão considere interessante levar-, mas remexeram todas as gavetas e desarrumaram as tralhas todas. Porque senti o mesmo que senti quando há seis meses entrei na garagem e vi que tinha o vidro do carro partido. Também nessa altura não roubaram nada. Deixaram no banco o pé-de-cabra com que escacaram a janela. Mandei reforçar a segurança da porta e substituir o vidro, mas nunca perdi a sensação de nojo por saber que alguém tinha estado ali mexericar em tudo. Durante um bom período de tempo não senti a casa e o carro como coisas minhas.

O que este quase cinquentão me disse referindo um dos meus maiores amigos - não é mau rapaz. Só espero que tenha deixado de comer salada de pepino e tomate - termina de modo ambíguo, que é quase sempre uma forma sobranceira de desprezar o parceiro que talvez nem saiba que foi agulhado. Uma quase private jock que faz pensar que o tipo dá alcunhas às pessoas.

É um exercício interessante encontrar alcunhas para desgraçados que nem sonham que são etiquetados dessa forma. Tentei fazer-lhe o mesmo e procurei arranjar uma que se lhe aplicasse. Encontrei:

O pincher