Atrasada, como convém a uma rapariga mentalmente elegante, dou por mim a descobrir-me abordada pela ótoridade por estar a retocar o rímel numa parada fila de trânsito.
É sempre uma maçada ser-se repreendida, mas há no entanto que relativizar estas questões e não desatar a ganir nas redes sociais. Não é de bom-tom, não é BCBG e cheira a Nally, cinco euros o litro.
Impõe-se uma visão mais positiva destas coisas. A Gaffe sabe que é suspeita, porque admite que lhe é agradável ver um matulão digno de figurar no MET, a aproximar-se enfiado numas calças divinais, presas numas lustrosas botas de couro preto, de pala a esconder-lhe o mistério dos olhos, repleto de cintos, com uma camisa a rebentar de músculos e um queixo largo, másculo, sombreado por barba de três dias muito prometedores.
A Gaffe aguarda dentro do carro a chegada da autoridade e espera serenamente que lhe peçam os documentos. Entrega-lhos na expectativa de ver o rapagão erguer-se para vasculhar a legalidade daqueles papelinhos. Nessas alturas, esta rapariga fica invariavelmente na janela do veículo - como eles adoram dizer -, com uma paisagem que faz esquecer qualquer possível repreensão.
É ligeiramente constrangedor, sobretudo quando levamos a velha tia no lugar do morto - e sobretudo quando a senhora ainda está viva -, ter tão perto do nariz as armas proeminentes da autoridade, mas, se olharmos de soslaio, como quem não quer a coisa - há alturas em que somos exímias mentirosas -, conseguimos manter o incêndio circunscrito a um corar desmesurado e a um discreto salivar.
Há momentos em que uma rapariga esperta tem de sacar dos limões azedos que a vida lhe oferece, uma limonada refrescante. O açúcar, minhas caras, está quase sempre num borboletear esperto de um friso de pestanas com o rímel espalhado antes de se tocar no manípulo das mudanças.
A Gaffe aguarda dentro do carro a chegada da autoridade e espera serenamente que lhe peçam os documentos. Entrega-lhos na expectativa de ver o rapagão erguer-se para vasculhar a legalidade daqueles papelinhos. Nessas alturas, esta rapariga fica invariavelmente na janela do veículo - como eles adoram dizer -, com uma paisagem que faz esquecer qualquer possível repreensão.
É ligeiramente constrangedor, sobretudo quando levamos a velha tia no lugar do morto - e sobretudo quando a senhora ainda está viva -, ter tão perto do nariz as armas proeminentes da autoridade, mas, se olharmos de soslaio, como quem não quer a coisa - há alturas em que somos exímias mentirosas -, conseguimos manter o incêndio circunscrito a um corar desmesurado e a um discreto salivar.
Há momentos em que uma rapariga esperta tem de sacar dos limões azedos que a vida lhe oferece, uma limonada refrescante. O açúcar, minhas caras, está quase sempre num borboletear esperto de um friso de pestanas com o rímel espalhado antes de se tocar no manípulo das mudanças.