A minha avó marca a folha do livro com um postal ilustrado antes de o fechar e erguer os olhos.
Abre depois a cigarrilha em prata. O fumo do cigarro
esparso, no aposento.
A minha avó sorri e segue com os olhos a estrada cinza
ténue que se esfuma.
- Minha querida, se decidiste partir, tens de saber que
nenhuma estrada te vai levar para lá de ti. Não viajamos nunca. Ausentamo-nos.
Há lágrimas nos olhos da minha avó.
O fumo. Ah!, o fumo.
- Partir é apenas uma ilusão que fica. Acreditamos
sempre na viagem, mas o que resta em nós é a ausência sentida nossa no lugar
que fica. Não viajamos, minha querida, a não ser por dentro.
O fumo, avó! O fumo.
- Não saímos nunca dos lugares onde fomos amados.
Do livro fechado, um postal que tomba. A página
perdida.
Paris, anos 40.
Na foto - Lee Miller - Paris, 1944