18.10.24

A Gaffe no sobe e desce


Não temos tempo. Corremos desatadas para os elevadores de forma a chegar mais depressa onde nem sempre queremos.

Odeio elevadores.

Há-os de variadíssimos feitios, mas aqueles que me irritam e destemperam os nervos são os mais antigos que trazem geralmente apenso um velho antipático e mal fardado, de unhaca afiada presa no mindinho, de cigarro nauseabundo seguro nas gengivas e que nos pergunta enojado para que andar queremos ir, como se dessa informação dependesse a segurança do edifício ou nos achasse demasiado burras para carregar no botão certo. Uma rapariga entra nestas coisas de ânimo leve e é apanhada por grades suspeitas que se fecham claustrofobicamente encerrando-a numa espécie de cela que abana por todo o lado, fazendo-a recear o encontro desagradável com poços de ar ou o desabar da geringonça com cabos partidos e ferros empenados.

O horror.

Os que se seguem na escala do meu ódio são os demasiado modernos, de aço e velocidade supersónica. Entramos, encostamos levemente o dedinho ao botão e somos impulsionadas em milésimos de segundo e de uma forma absolutamente esmagadora para o local que quase sempre nunca é o desejado, porque nos enganamos ao aflorar o tão sensível indicador do piso.

Enquanto que os primeiros nos rejuvenescem, porque são de época e ser-se de época é meio caminho andado para o encarquilhamento, os segundos envelhecem.
A velocidade com que se movem, quando subimos, permite que a lei da gravidade opere maldades atrozes numa rapariga. A força com que somos projectadas para cima coloca-nos o umbigo no meio das maminhas, deixa-nos o cabelo oleoso e arranca-nos as cuecas - no caso de as usarmos. É uma canseira a recuperação e nem sempre os resultados são eficazes, porque nunca ficamos com tempo para retocar a maquilhagem.
Quando descemos, a velocidade é tamanha que acabamos por concluir que o século XVIII foi penalizado por não ter elevadores desta espécie que esculpiriam as cabeleiras das senhoras em menos de um segundo. É também uma inconveniência o facto de ficarmos cegas por causa do pano da saia que se levanta e não apanharmos, quando o foguetão se abre, as caras de surpresa dos que o esperam ao depararem com uma rapariga esperta com um penteado de época - meio caminho andado para o encarquilhamento, - de saia levantada a todo o vapor e com as cuequinhas - caso as usarmos - transformadas num imenso fio dental.
Apesar de tudo, estes foguetões, na descida, oferecem uma vantagem sobre os primeiros: entregam-nos a esperança vã, mas deliciosa, de ficarmos altas e de pernas longas com um cabelo vasto e volumoso, leoas sem cuecas prontas para matar.
O meu problema é igual ao de todas as raparigas que - de saia travada e sem mais nada que lhe asfixie a força da sua natureza feminina - não se querem maçar subindo escadas sem que nenhum rapaz de fazer erguer um morto de tão giro, as siga logo atrás.

Nós, raparigas espertas, devemos usar apenas estas máquinas quando nos transportam ao céu ou nos fazem chamuscar as asinhas num inferno. O resto é mais andar, menos andar.