26.9.24

A Gaffe das mariposas


Existe uma criatura que deixa a Gaffe muito irritada. É claro que não se restringe ao masculino, mas é mais comum ter de a enfrentar neste género.

O limpinho

É um rapazinho delicado e educadíssimo e embora seja difícil reconhecê-lo pela imagem, é habitual ter como suporte um ar minimalista, mesmo despojado e sem grandes ambições.
É correcto. Nada nele é vulcânico. Chega a ser a encarnação do Buda, mas em magro. Numa discussão é capaz de afirmar com a calma das superfícies desertas que se levantarmos a voz, perdemos a razão, desconhecendo que a razão não depende do volume do som com que a expressamos e que permanece nossa, se for nossa, quer expressa aos gritos, quer toldada por um Lexotan. Existem formas desagradáveis de a defender, é tudo.

Tem alma de pequenino censor e como a censura só se ergue como monstro quando atinge revoltantes proporções, o rapazinho vai cortando ali e acolá, deixando no frio dos seus dedos manipuladores pedaços decepados do que ouviu ou leu e que lhe servem para polir tiradas de pacificadora índole.
Tem algures um aparelho estranho com que mede a vida dos outros. Normalmente todas são pequeninas segundo as avaliações que faz e que acabam por empolar aquilo que vive. É uma forma subtil de se ser um ditador minúsculo e caseirnho.

É um conciliador primaveril. Procura tanto o ponto de vista dos outros, que acaba sem paisagem sua, saltitando de flor em flor, de cacto em cacto, recolhendo o orvalho para moldar a sua própria nuvem – de algodão doce, já se vê.
É tão corridinho, tão direitinho e tão perfeitinho que deixa de ser homem para ser apenas uma forma de apertar o que os outros escrevem com a vida.

A Gaffe encontrou um. Gostou da camisinha abotoada e perdoou-lhe o muco incolor do seu voar tremeluzente e lavadinho.