Confesso que tenho um medo pueril do escuro.
Mas o certo é que tenho medo do escuro.
Sempre que me levanto a meio da noite, porque esqueci a água ou porque comigo se levantam outras incómodas tarefas, encosto-me às paredes e arrepio-me a pensar que, a qualquer momento, posso ter a agarrar-me a garganta e a esfacelar-me a jugular um monstro decrépito e apodrecido, de olhos sangrentos e sanguinários dentes.
Não ligo as luzes. Deslizo, eriçada de pavor, com gelo na espinha e olhos de soslaio, pronta a debater-me contra os bichos, mas não faço luz por onde passo. Não posso humilhar-me mais do que suporto e lá arranco forças para enfrentar o monstro que se esconde para saltar à minha tenra carne desprotegida e nua.
Regresso à cama com uma vexatória velocidade e só me sei segura quando cubro as minhas pernas com tudo quanto é fronha, almofada ou lençol.
- Foste depressa!
- Pois fui. Não quero que nenhum monstro te apanhe aqui sozinho.
- A única monstrinha aqui és tu.
... ...
Regresso à cama com uma vexatória velocidade e só me sei segura quando cubro as minhas pernas com tudo quanto é fronha, almofada ou lençol.
- Foste depressa!
- Pois fui. Não quero que nenhum monstro te apanhe aqui sozinho.
- A única monstrinha aqui és tu.
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O problema é que estes pequenos medos fazem parecer que a inteligência sofreu um AVC.
O problema é que estes pequenos medos fazem parecer que a inteligência sofreu um AVC.