25.11.25

A Gaffe no tempo à espera


 Não há esperas inúteis até ao momento em que as transformamos, mesmo sem saber, num vazio incómodo.

A espera continua a vida, mistura-se com ela até ser viva. Integra a nossa alma até ser pedaço dela, indivisível, inalienável. Não adia o tempo de viver, porque é já ele.

Gostava de me atravessar na porta por onde o tempo passa. Impedir que se escoe, que desapareça. Talvez então eu conseguisse fazer a morte parar, ficar à espera. Talvez então encontrasse um modo de entregar a alguém o tempo que é meu e de que mais me orgulho. As horas empapadas em que eu esperei. Esse tempo exacto. Esse intervalo nítido que finda no instante em que me levanto porque sento a minha espera desistir, abandonar-me a vida.

Nada como o fio ténue de uma espera para nos segurar ao lugar de onde partimos.