28.2.25
A Gaffe em obras
6.2.25
A Gaffe "trolhadeira"
A Gaffe abre uma página web e apanha com uma janela noticiosa que a avisa que há um rapazinho que mais uma vez entrou em coma.
27.1.25
A Gaffe sempre a tempo
30.12.24
A Gaffe e as touradas
Toda a rapariga esperta sabe que por vezes um touro fechado na cozinha faz menos estragos do que um toureiro na cama.
24.12.24
23.12.24
A Gaffe cumpre a tradição
Salvo raríssimas excepções, a Gaffe, por muito desgrenhada de lonjura e de trabalho, jamais se esquece de regressar aqui nesta ocasião.
Não vem de fugida para encaixar com inigualável perícia uma lâmpada nos objectos que necessitam de fios coloridos para funcionar – a Gaffe depreende que os rapazes que gostam de bricolage conseguem fazer piscar uma avenida inteira transformando-a no orgulho da família mais chegada -, mas para vos dar uma péssima notícia, raparigas.
De acordo com fonte seguríssima, todas as raparigas que se portaram terrivelmente mal durante o ano, não vão ter a visita do Pai-Natal.
O Pai-Natal nestes casos terríveis, como castigo vai enviar o sobrinho.
7.12.24
A Gaffe de "Notre Drame"
Nas pedras o meu reflexo no fundo da cidade, ou no erguer das cinzas de Paris, atravessa e clarifica o negrume da minha nostalgia agora iluminada.
O lema de Paris - Fluctuat nec mergitur - sobrepõe-se ao grito la flèche est tombée que arrepia e torna a imagem da queda do archote numa das mais significativas da tragédia. Uma imagem icónica. Uma tocha cai com a dignidade devastadora esperada na queda dos signos.
O objecto Notre-Dame é uma construção e reconstrução dos homens.
2/3 do telhado desapareceram. Pertenciam ao século XIX.
O arco de pedra sob o telhado não sofreu grandes danos.
As torres e a fachada da Catedral estão a salvo, embora a estrutura necessite de avaliação cuidada.
A esmagadora maioria dos vitrais resistiu. Estão ilesos. Apenas uma das rosáceas se estilhaçou.
A flecha da Catedral datava do século XIX. Não provinha do
século XIII. As suas dezasseis estátuas tinham sido retiradas dias antes.
As relíquias foram salvas.
O orgão da Catedral não sofreu danos.
O signo Notre-Dame há séculos que se havia tornado arquétipo e a raiz da Árvore é de pedra, em cruz como as catedrais, e mantém nas garras a memória colectiva, tornando-a única, mas transmissível, pertença absoluta de cada um que passa, subjectiva, como é de seu paradoxal destino.
Talvez por isso os sinos das mais icásticas Igrejas de Paris tenham tocado juntos a rebate, carpindo o incêndio, avisando os homens como não o faziam há já mais de cem anos. Pranteando a tragédia do signo ameaçado, prevenindo os homens da irremediável fugacidade da existência que acolhe o esquecimento e a indiferença como motor civilizacional, como objecto do progresso, como exclusiva ferramenta do real.
Nada é tão vazio, tão terrivelmente oco, tão desoladoramente triste, como ilustrar a ardência de Notre-Dame com o quasimodinho da Disney agarrado as lágrimas com que banha as torres. Nada é tão revelador da distância que separa o homem do signo, da desvinculação do homem ao símbolo.
O nosso drama é que choramos demasiadas vezes através da Disney.
16/04/2019
A primeira vez que entrei em Notre-Dame foi pela mão da minha mãe.
A hora era parda e chuvosa. A Catedral respirava lenta através das sombras das pedras e dos ruídos quase impercetíveis das madeiras. Não me lembro se havia mais alguém. Notre Dame sempre me deixou sem gente à volta. Sempre me deixou entregue a mim, sozinha, perante a consciência aguda da minha própria alma.Fiquei uma tarde, já tarde - tão tarde! - segura pela chuva. Fechei o casaco e calcei as luvas, amarrotei o abraço para não sentir frio e fiquei a ver o sossego pasmado. Veio então de novo aquela morrinha que é ser feliz ou pensar que o somos. Procurei as luvas sem me aperceber que já as tinha calçado e não tinha nada a não ser Notre-Dame à chuva e senti a chuva a cair dentro de mim.
Quando eu voltar a Paris, não tenho a Catedral e sei que a chuva vai cair lá fora.
15.11.24
A Gaffe de fugida
Em Paris, volto a ser o que sempre fui. Uma revolta ruiva.
Desejam-me mais velha e mais madura. Dizem-me alguns com os olhos doces, estendendo-me os braços, e seguros de que seria bom que eu os ouvisse quando mo dizem.
Procuram, tenazes, o meu lugar correcto, fixo, imutável. Esquecem que desconheço o Norte, que nunca fui capaz de o apontar certeira, que dentro já sou nómada e que perdi os rumos, as rotas e as sedas, que nunca fui capaz de erguer sozinha as telhas nos desertos.
Eu cruzo os braços, lassos e cheios de ironias e cansaços e talvez vá por ali.
A indiferença poderá toldar-me os passos. Serei velha burguesa, parisiense e snob, embutida em spleen queirosiano, com tigres aos pés, mas só osde Blake e o de Borges, e com a alma escurecida de uma Woolf.
14.11.24
A Gaffe vaporosa
Embora actualmente de forma pouco segura e muito mais flexível, as rendas, os bordados e os padrões florais ou floridos, foram durante demasiado tempo apanágio do feminino.
Este facto deu uma enorme vantagem às mulheres que se apoderaram com convicção das potencialidades deste universo vaporoso e frágil, armadilhando-o e fornecendo-lhe uma conotação erótica que é, em última análise, proveniente da ausência que passa a obrigatória destes elementos no círculo de uma masculinidade empedernida que se vê deslumbrada e desperta pelo sussurrar destes tecidos.
O astuto, cuidadoso, engenhoso, e muitas vezes inquietante, uso feminino das rendas e dos padrões florais, opera maravilhas no subconsciente dos incautos rapazes que presos nas redes, teias e flora dos tecidos, acabam por sucumbir ao fascínio do que lhes é interdito.
A proibição, aqui como na esmagadora maioria dos casos, incute e impele o desejo de transgressão e é agradabilíssimo sentirmos que no esvoaçar do pano se liberta a sombra do pecado e o subtil fascínio da irresistível feminilidade.
Mas - convém não esquecer -, a lua tem uma face mais obscura e trágico é quando este miraculoso encantamento de rendas e bordados a preceito, se traduz na visão catastrófica do nosso rapagão a desfilar pela brisa da nossa intimidade usando, balanceado, as nossas artimanhas.