15.11.24

A Gaffe de fugida


Em Paris, volto a ser o que sempre fui. Uma revolta ruiva.

Desejam-me mais velha e mais madura. Dizem-me alguns com os olhos doces, estendendo-me os braços, e seguros de que seria bom que eu os ouvisse quando mo dizem.
Procuram, tenazes, o meu lugar correcto, fixo, imutável. Esquecem que desconheço o Norte, que nunca fui capaz de o apontar certeira, que dentro já sou nómada e que perdi os rumos, as rotas e as sedas, que nunca fui capaz de erguer sozinha as telhas nos desertos.

Desejam-me o que são.
Eu cruzo os braços, lassos e cheios de ironias e cansaços e talvez vá por ali.

A indiferença poderá toldar-me os passos. Serei velha burguesa, parisiense e snob, embutida em spleen queirosiano, com tigres aos pés, mas só osde Blake e o de Borges, e com a alma escurecida de uma Woolf.

Então a minha casa será no Père-Lachaise.

Fotografia - Ernst Haas - Paris desde Notre Dame, 1955