11.8.22

A Gaffe de um berlinde


A minha liberdade era um berlinde.

Um dos berlindes que o meu avô guardava num saco de estopa na despensa. De vidro, com cores enclausuradas, que os de plástico vieram só depois.
O meu avô dizia que havia ratos na despensa. Todos tinham medo dos ratos na despensa, menos eu que gostava dos berlindes.
Gostava do berlinde azul com caracóis cor de ferrugem dentro, como os insectos presos nas pérolas de âmbar do colar da minha avó.
A minha liberdade era, portanto, um berlinde fechado na despensa onde havia ratos.

Agora que não há despensa e os ratos já morreram, a minha liberdade continua a ser um berlinde que também eu escondo numa
despensa onde digo que vivem os netos dos ratos da despensa do meu avô.