29.5.20

A Gaffe aqui e acolá


Quase um mês depois - mais dia, menos dia -, a Gaffe já é capaz de colocar frente a frente as duas plataformas que a apoiam. A primeira há imensos anos, esta muito mais imberbe.

É bem verdade que esta menina irrequieta não descansava enquanto não experimentasse passear nos domínios do vizinho e, com a urgência de descontrair um bocadinho mais que o habitual, tentar fazer dançar os malabarismos dos códigos nas entranhas do desconhecido.

É evidente que esta rapariga esperta não consegue dispensar a antiga, acolá, e a nova aqui. Pensou manter rabiscos nas duas, colocando numa as suas cuesias, o azeite das suas receitinhas de bolinhos e da playlist, e na outra uns desabafos mais intimistas, uns olhares desconsolados para o mundo que a rodeia, as tragédias caseirinhas que a vão apoquentando, mas admite que baloiça, não se decidindo qual a mais adequada às suas andanças de etiquetas. 

São manifestas as pequenas diferenças entre estes seus dois amores.

Certa é a facilidade com que, aqui, se manipulam as características do blogue, como se altera o seu aspecto, como se manuseiam os segredos dos códigos e os mistérios do CSS. Por estranho que possa parecer, as reviravoltas codificadas são mais fáceis de dar aqui do que acolá. É muito importante este dado para uma rapariga volátil, inconstante e incapaz de deixar sossegadas as entranhas dos templates. A Gaffe arrancou os dentes às nuances originais do tema escolhido aqui e cravou a dentadura que entendeu, sem ter de usar o berbequim ou a broca do esgotamento mental. Um ponto a favor para aqui.

Jogando a favor do acolá, encontra-se a facilidade de interacção disponibilizada. No aqui é miserável, distorcida e incompleta, repleta de falhas que dificultam ou impossibilitam mesmo os comentários de quem quer que seja. Um horror que a plataforma tem tentado suprir, apoiando o utilizador com algum distanciamento - que não convence por ser demasiado gelado e demorado - e que contrasta com a atenção, a disponibilidade quase imediata, o carinho, o respeito e o profissionalismo da equipa SAPO.

Convém referir, no entanto, que as tão elogiadas – e verdadeiras - comunidades que se vão fomentando ao longo dos avanços do tempo, existem comprovadamente aqui, apesar de mais cerradas e talvez mais imperceptíveis. Encontramos fidelidades, lealdades, fascínios perenes, amizades e cumplicidades, em todo o lado. Aqui talvez sejam mais difíceis de construir do que aqueles que se solidificam acolá, provavelmente devido às possibilidades que a equipa SAPO vai oferecendo, com, por exemplo, as rubricas tags, desafios, mais lidos, últimos posts e destaques.

Seja como for, a constância, a persistência da interacção e a identificação de grupo, são essenciais às duas plataformas como troca de opiniões e de gestos assíduos. Quer numa, quer noutra, a presença das nossas florinhas nos canteiros dos vizinhos, através de carradas de comentários tantas vezes tontinhos, é facilitadora de fidelizações, fomentando a criação de círculos que muitas vezes se tornam difíceis de quebrar. 

Uma outra característica que é útil sublinhar tem a ver com os escritos.

Aqui escreve-se extraordinariamente bem. Talvez se escreva melhor do que acolá. A quantidade de blogues que surpreendem pela qualidade literária da escrita - ou pelo maior gosto com que os lemos, dado que não somos críticos literários com pergaminhos firmados para sustentar a primeira afirmação – aparenta estar aqui em número superior. Não desmerece, não desvaloriza, não menospreza e não diminui, de forma nenhuma, o que se escreve acolá, mas, há que assumi-lo com frontalidade, os textos lidos aqui parecem mais trabalhados, mais cuidados, do que aqueles de acolá. Alguns encontram-se na selecção exposta na barra lateral destas Avenidas que reúne um pequeno número dos que são os mais fantásticos autores que se encontram pelas esplanadas alheias - Pese embora um dos meus marinheiros favoritos estar de licença sabática. Seria muito interessante revelar as faixas etárias que maioritariamente escrevem aqui e acolá. Suspeita-se que a qualidade literária se alia à maturidade literária e as duas são consequência também da maturidade do autor. Provavelmente acolá os jovens são em maior número. Como a juventude é quase sempre um ponto a favor nas futuras andanças do destino, nos empenhos de alegria, nas revoltas e mudanças, talvez acolá se encontre uma promessa de vitória. 

Posto isto, meus amores, a Gaffe vai para dentro que está demasiado calor para se ficar aqui à toa esperando que Godot surja acolá, numa rajada de vento inconstante e fresco.