20.10.20

A Gaffe abanada


Grab 'em by the pussy. You can do anything.

Este pressuposto cuspido por Trump, que se torna elegante à luz dos posteriores, é, após algum tempo, origem de algumas - poucas - derrapagens da pena desta rapariga tonta.

Depara-se esta menina com um facto incontestável.

É certo e sabido que, quer entre os mais distintos conservadores, quer exactamente no meio dos mais revolucionários e reivindicativos, a piloca é um elemento que coadjuva com bastante frequência as suas andanças, sortes, fortunas e bolandas. 

É um elemento primordial na demonstração de poder, domínio sobre o circundante, desafio, coragem e agressividade. Apela-se à piloca - pila para os menos familiarizados com todas as variações lexicais existentes - para sublinhar a força dos argumentos e a carga simbólica de reserva. Agarra-se na dita como se de uma arma se tratasse, ameaçadoramente.


Capaz de arrasar o interlocutor, é banal este gesto exibicionista de macho poderoso de se agarrar à pila, sacudindo depois a embalagem onde a pobre repousa - e não deixa de ser um curioso argumento, ou um belo sublinhar daquilo que se deseja definitivo e sem contrariedades -, mas torna-se bastante complicado caso a exiguidade da agarrada não permita o gesto de imediata reacção, de pronta resposta ,ou de punhalada – pilocada? – instantânea. Há pilas difíceis de encontrar quando são precisas.


Tendo tal derrame de tolices por nota, é fácil compreender Trump e tantos outros que com ele partilham a famigerada máxima que encima este rabisco. Se se agarrar a piloca sacudindo-a na cara dos adversários resulta como argumento ou conquista de poder, é evidente que existe a hipótese de o resultado ser idêntico se o patego imbecil ajustar a acção a situações e sexo diferentes, agarrando aquilo que em princípio é da exclusividade das meninas.

Não nada há melhor do que um gesto dominante - mesmo a sua versão metafórica -, para convencer o povo de que o protagonista do dito tem toda a razão e sobretudo aquilo a que usualmente se apelida tomates.

É o chamado abanão.

O abanão segura o derrame, a hemorragia, o esvaziamento, de companhias aéreas que foram pelo ar; recusa patrocinar toxinas botolínicas a bancos encanecidos pela ruína ética, moral, organizacional e os deuses saberão do que mais rugoso trazem encoberto e faz tremer as pernas dos potentados que se borrarão de medo mal o leão mostre o bufo da revoltazita que não serve sequer para o turista inglês apreciar, mesmo comprimido, ou esmagado por entre a gente, num corredor sanitário.

O abanão vai cobrindo o espectro do utilizador de aplicações grátis e simples para telemóveis - muito obrigado! -, que apitam apenas enquanto os orçamentos passam a ver os navios do Serviço Nacional de Saúde a boiar à toa e nos deixam depauperados com a certeza do irresponsável desleixo a que nos entregamos, escandalosamente acima das nossas possibilidades e dos drinks de fim de tarde. 


O abanão masculino é a manobra mais eficaz de deixar entrar palhaços, disfarçar encrencas e desviar problemas.

As mulheres substituem o convincente abanão por pregadeiras. Apesar de tudo, são sempre mais picantes.