29.4.21

A Gaffe num pormenor


A constância de um detalhe, a permanência de um pormenor, na imagem total de uma mulher - Eventualmente não tanto na de um homem, demasiado desatento às filigranas da vida-, acabam por se tornar uma das chaves do seu charme, do seu carisma, da sua irrecorrível aquisição do lugar de memória, quer no tempo, quer no espaço.

É instintiva, é inconsciente, é maquinal, a forma como uma mulher submete o detalhe a uma servidão que lhe permite apurar a marca definitiva do seu particular feminino. Descura a minudência para a subjugar à sua normalidade. A peculiaridade não extravasa, pois que é refreada pela dimensão de quem a esquece. É fundamental que assim o seja, caso contrário o detalhe absorve o universo inteiro, adquire a imensidão do todo e apaga a mulher que racionalizou, cuidou, sobrevalorizou e se deixou enredar pela singularidade.

Raríssimos são os momentos em que Sua Majestade, a Rainha, surge sem um alfinete de peito colocado com rigor no lugar devido. Noblesse oblige, mas sem permitir jamais que o detalhe seja o soberano.

Consuelo Vanderbilt, duquesa de Marlborough, sempre refreou o rugido das suas exuberantes - e cruéis - estolas de raposa branca.

Frida Kahlo abateu a inestética de uma monocelha.

As mulheres do Douro e Minho acalcanham sozinhas o ouro perseverante das arrecadas.


Depois há outras mulheres.

As pregadeiras de Graça Freitas existem, mas não existe Graça Freitas.