3.5.21

A Gaffe amadora


A Gaffe, em boa verdade, sempre teve uma irritante sensação de déjà-vu quando em modo distraído lhe surgia um demarcado líder partidário português. A aparição transtornava-se em animação e toldava-lhe o siso, pois que esta tonta rapariga o substituía sempre por Mr. Burns, arrepiante personagem dos Simpsons.

Neste instante, a Gaffe lobriga a tenebrosa injustiça que durante todo este tempo afectou a cabeça partidária e de bancada tão visada pelo infortúnio.

Não por lhe ser especialmente penoso o exercício sinistro do body shaming. A Gaffe sempre foi uma cabra e arrasar uma criatura apenas com disparos directos - ou mesclados de algodão e disfarçados de nuvem e de desenho animado -, ao corpinho de alguém, nunca a fez temer o inferno - que afinal somos nós, como Sartre já reconhecia.

O facto é que - tal como para a Amadora -, bacalhau basta para que nas nossas aproximações imagéticas - digamos desta forma, para simplificar -, antes tidas como sólidas e inquebráveis, se alterem ou quebrem sentidos, princípios, paridades, semelhanças, identificações e paralelos.

Abandonando a visão simpsoniana, a Gaffe passou a olhar o grande líder partidário de forma distinta e recorrendo a outros carnavais e a diversos humores, tendo sempre presente a extraordinária macacada que é afirmar que por trás de um grande homem, há sempre uma grande mulher.

Às vezes, o que temos é somente uma tibieza coerciva, que resulta de uma cada vez maior desertificação ideológica, que se deixa amarrar e dominar por uma cobiça oportunista estercada pelas fragilidades e inconsciências sublevadas dos povos.

É ordinário que por trás de um homem atado e enfraquecido, sem grandeza ou outra dimensão, esteja o populismo obeso à espreita.

É que por trás de um grande homem, há, isso sim e bem visível, uma consciência de que perder ou ganhar são também duas questões de dignidade.