2.7.21

A Gaffe entre moradias

F. Vicente


É estranho ficar perante a nossa própria surpresa quando nos sentimos imprevisivelmente incomodados com a brutalidade, a boçalidade e a capacidade de se mergulhar na mais desgraçada das imbecilidades, contidas num comentário anónimo que cobiça ser ofensivo.

A atitude evidente será a de o soterrar, de o proscrever sem lhe tocar, de o aniquilar sem sequer rasar a primeira sílaba da primeira palavra.

Esta repugnante forma de alguém se revelar demente, de alguém acusar uma psicopatia contaminada por Tourette com pingentes de uma crescida e entranhada coprolalia, não é barrada na plataforma Blogger, a não ser quando se impede uma interacção ligeiramente mais alargada, restringindo drasticamente o círculo minúsculo de opiniões autorizadas.

A minha mais que evidente ausência destas lides é consequência da recusa que foi crescendo em ter de tocar no link que abre a cloaca mais abjecta que nos é dado imaginar, para a destruir em seguida.

Para surpresa minha, os comentários por assinar que tinha de desarmar depois de necessariamente os abrir, incomodavam-me, envergonhavam-me e faziam com que me sentisse a necessitar de um banho colossal que durasse horas a fio. Chegava a ficar arrepiada com a dimensão do meu asco.

A plataforma Sapo impede o anonimato, se assim o desejarmos. Os insultos, quando existem são obrigados a reter uma assinatura e conduzem-nos aos burgessos que os pariram. Uma enorme vantagem.

Tenho três opções desenhadas no monitor destas palavras. Saltito com significativo temor e náusea e longos intervalos por entre os campos destes rabiscos, retorno à casa que me protege dos bandidos e vou tentando que os pulinhos sejam mais frequentes, ou deixo de saltar.

Sou, neste momento, toda eu uma indecisão ruiva.

Pelo sim, pelo não, vou levar as malas.