24.8.21

A Gaffe afegã

Boushra Almutawakel

É no mínimo curioso, digno de cuidada e atenta observação, assistir ao proliferar de mulherzinhas que abrem feridas nos céus, rasgam o chão e esfacelam as águas, despidas de reservas, nuas, destroçadas, atiçadas e muito mais que se quiser que tudo serve, perante a visão catastrófica do alastrar do crime, do desalmamento, da desumanidade, da inumanidade, que no Afeganistão destrói mulheres.

Perguntam, chocadas e em ruidosa revolta, aos vinte anos de assalto e saque americanos e aos mesmos de hipocrisia medricas e oportunista da Europa, a razão deste monumental horror e descobrem que não se aperceberam da ordem de destruição de campos de ópio cultivados pela miséria afegã, inibindo-se desta forma a fonte de rendimento do inimigo que, por sua vez, pagava a essa mesma miséria para que as papoilas  renascessem, num círculo por quebrar sem fim à vista, sem alternativas nem a cana de pesca do aforismo chinês.

Em simultâneo ignoram que raptos e escravidão sexual a que milhares de mulheres estão sujeitas, resulta também do esmagamento secular do feminino no Oriente Médio que, por bizarro e paradoxal que pareça, fomenta a promiscuidade sexual entre os homens - não é gay, qu'ele está de costas - num abalroamento sinistro, deturpado e melífluo à velha Grécia.

Em simultâneo ignoram que a tragédia, a negação sumária da decência e a aniquilação do feminino, que no Afeganistão atingem a visibilidade e as parangonas de um apogeu de catástrofe anunciado por José Rodrigues dos Santos, tem o seu infinitesimal, esconso, microscópico e tenebroso início nos arremessos de disfarçados crimes escondidos quando as indignadas mulherzinhas que se avistam por tudo quanto é rede social, anunciam entre dentes que a vizinha é uma mulher que não sabe estar, que a outra sabia para onde ia ou que uma mulher deve portar-se como deve ser.

É no mínimo curioso perceber que os talibãs - ou seja, os estudantes - e as mulherzinhas das redes sociais acabam por ter em comum a velhíssima e perdida Grécia! Os primeiros nas suas espartanas relações homossexuais, as segundas portando-se como ridículas estriges de coros trágicos.