11.1.22

A Gaffe sem glamour


Há mulheres que só com o perfume nos humilham. Provocam-nos um colapso nervoso ou desencadeiam uma depressão profunda quando passam por nós, que somos raparigas espertas, mas sem uns trocos jeitosos na carteira para poder lavar a alma com umas compras muito Jackie O.

Normalmente olham para nós como se tivessemos obrigação de lhe ter lido o CV antes de lhe fazer a vénia.

O que mais impressiona não é a maquilhagem. Uma mulher elegante deve parecer que não usa desde a adolescência tola um pingo de make-up - sejamos internacionais -, um pincel de sombrear os olhos ou um bâton, mesmo daqueles que nos fazem empenhar o apartamento para os comprar, e no entanto estar empapada em blush e encharcada em rimmel, com a balança em desequilíbrio por causa do peso do eyeliner.

Também não causa grande intriga o tailleur ou o colar, ambos verdadeiras jóias e ambos de arrasar o ordenado de uma miúda banal, mesmo daquelas que se estafam no trabalho. Uma mulher elegante pode ter a veleidade de empenhar seja o que for em nome de Dior.

O que causa espécie, como diria a minha avó, são as meias e os sapatos!

Há mulheres com pernas magníficas! Duas esculturas que quase lhes chegam à garganta e que terminam, nos lados que ficam perto do chão - digo perto porque mulheres daquelas só flutuam - nuns sapatos pretos simples, bastante fechados, com uns tacões agulha, do tipo usado nas urgências para espetar adrenalina no coração dos mortos.
Fica uma rapariga a pensar que daria tudo, era capaz até de emprestar o homem dos seus sonhos, por ter um par igual. Não de sapatos, mas de pernas. Depois, já com mais calma, a rapariga simples repensa o caso e acaba por concluir que, e para aquilo funcionar sem gastar muito, teria de andar de gatas pelas lojas das meias, à procura de um par mais baratito e pedir à Nossa Senhora de Fátima - padroeira dos equilíbrios, sobretudo em cima de oliveiras - ajuda para se poder manter segura naquelas duas torres gémeas, pretas de verniz.

A elegância genuína é cara. Não é contraditória a afirmação. É complementar.

Podemos nascer de diadema, com um allure de arrasar parola, snifar diamantes e espirrar caviar ou ter o charme indiscutivelmente francês de Jackie O, mas se não formos amantes dos Onassis desta vida, ou de família que reine em qualquer lado, acabamos cheias de olheiras, a trabalhar à bruta e à maluca, para poder no fim do mês comprar umas chanatas - chiques, mas chanatas mesmo assim - e largar as meias que mais se parecem com arraiais minhotos de tantos foguetes.

Sejamos felizes, portanto. Há mulheres elegantes que só têm o érrima porque têm carteira.