28.3.22

A Gaffe muito adulta

Para onde olham as mulheres quando na frente têm um rapagão digno de figurar na capa do catálogo do MET, um nadador olímpico, um colosso que rivaliza com a estatuária grega ou um tritão capaz de surfar as nossas mais recônditas fantasias eróticas?

A Gaffe ouve dizer com frequência, que a nossa atenção se crava nos olhos, justificando esta fixação com o dado como certo os olhos são o espelho da alma, embora todas saibamos que a alma usa óculos escuros, o espelho é baço e o nitrato de prata foi comprado no chinês.
Mentimos, porque uma resposta vagamente relacionada com o impalpável, funciona melhor do que a realidade muito pouco pudica e propensa a apalpões desavergonhados.

A verdade, não adianta disfarçar - até porque o esforço que fazemos para não revelar a direcção do nosso olhar é já canseira que baste -, é que não perdemos uma oportunidade de dar uma vista de olhos à braguilha.

Este mover de olhos brando e piadoso tem-se revelado de utilidade extrema, revelando, por exemplo, que Nelson Évora teria o ouro de muitíssimas mais medalhas se trocasse a modalidade que pratica pelo salto à vara.


A Gaffe, após cuidada análise estatística, exaustiva prospecção de mercado, estudo apurado dos hábitos da consumidora, cálculo de probabilidades e empírica experiência, está apta a definir os dois grandes grupos de braguilhas que vão incluir dezenas de pequenas variantes que cabe a cada uma reagrupar, subclassificar, com o cuidado que a matéria exige.


Embalagem plebe


O conteúdo é apertado pelo tecido que enruga nas virilhas e desenha de forma mais ou menos evidente o que permite verificar se nos ficamos por uma reprodução fiel da totalidade de um atleta grego que em mármore não promete grande desempenho ou se temos catapultas romanas prontas para a batalha. Podemos não adivinhar de imediato os contornos do esculpido, mas vale sempre a pena quando a alma observada não é pequena. Dentro desta classe, é importante referir aquela que fica presa nos jeans - sobretudo Levi’s 501 -, puídos e gastos onde os nossos olhos adivinham as direcções que a vida toma quando o caminho é longo. Nesta classe, não podemos contabilizar no entanto os desengonçados pares de calças, presas nas ancas e de gancho nos joelhos, com que os imaturos nos brindam e que dificultam as nossas tentativas de orientação científica.


Embalagem  brasão


Presas em tecidos nobres. Geralmente menos interessantes, porque mais discretas. São, no entanto, deveras atraentes quando o dono se levanta de repente, sem ter tido tempo de fazer descer o tecido das pernas das calças que, ao sentar-se, levantou ligeiramente para não deformar nos joelhos. Aí, mostra o que vale, desenhando num aglomerado de tecido onde é fácil detectar o que lhe vai na alma, o sonho embalado, o paraíso fechado e comprimido em fazenda autoritária e, se o vislumbre for certeiro, permitindo adivinhar também outros recantos ou outros assuntos mais pendentes, mais prementes.

Claro que dentro destas duas grandes classes, há que referir as subclasses, variadas e cheias de interesse, fáceis e sempre susceptíveis de uma avaliação pormenorizada. Estas são descriminadas, nomeadas, encaixadas e arquivadas de acordo, por exemplo, com a existência e colocação dos bolsos ou com o modo como apertam.

Raparigas! É uma tolice omitir que uma braguilha apensa a um homem lindo de morrer é o foco da nossa primeira atenção. Uma mulher – dizia a avó - deve sempre baixar os olhos na presença de um homem. É a forma mais rápida de avaliar o local onde lhe pode dar um pontapé.