Vivian Maier |
Ao fundo da alameda de mimosas fecharam-se os portões.
A manhã declina o encadear das sombras. Inclina-se devagar sobre a água do lago e num tocar escurecido trepa aos olhos do anjo de pedra. Venda-lhe os sussurros das árvores que oscilam pesando as horas ternas da indiferença do vento.
O azul da luz esgueira-se por entre as sebes como um lagarto que tem frio e um pássaro treme, como o peixe vermelho assustado pelo toque da minha mão na água.
Há sardinheiras a abrir. Novelos de hortênsias no anil de uma promessa e a relva cresce lenta como um gesto que se faz inútil por estar sozinho.
Se avançar, piso as pétalas que espalharam nas pedras para que o som das campainhas se misture com o perfume enjoativo que libertam esmagadas. Um corredor de pétalas com as geometrias traçadas por moldes de madeira. Um corredor de pétalas pisadas que não foi limpo, porque o Dia Santo é dia de descanso e há tempo nesta manhã em que se fecham os portões ao fundo da alameda de mimosas para cuidar dos restos da tarde da véspera.
Fecharam-se os portões.
O som das campainhas ecoa na copa das árvores. É esmagado pelo perfume da luz que se inclina para decifrar a cor das sardinheiras.
Ao longe, as tílias sacodem a poeira deixada pelo adejar das opas brancas e um teixo ergue-se para o céu como um crucifixo.
A manhã devolve-lhes o silêncio depois do Dia Santo.