No pátio aberto ao sol um pássaro preto traz no bico uma cereja. Salta no granito a arder com uma cereja no bico e faz estalar as penas no ar quente quando vê brilhar a superfície do lago que treme com o movimento da carpa.
No meio do lago a carpa agora parada abre a boca. Fecha a boca. Asfixiada. Abre e fecha a boca. Abre e fecha a boca. Sem interromper a quietude aquática, a transparência das guelras move-se como um fino lanho em prata. Tem olhos vítreos, avermelhados. Como cerejas imóveis nos bicos dos pássaros.
A casa resguarda-se do sol, cerrando as portadas. A luz azul plana e paira dentro. Dedos finos de luz azul por entre as frinchas das portadas, pousam na toalha branca sobre a mesa, arranjam um desalinho invisível das hortênsias cortadas pela manhã, abrem uma vereda esguia na madeira do soalho e tocam os arabescos quase florais dos tapetes rasos.
A casa sossegada, arrefece.
No pátio escalda a cereja no bico de um pássaro, como a minha indiferença no frio da casa. Uma carpa move a boca inútil como a mulher com frutos vermelhos no regaço que sentada me asfixia com a sua tristeza daninha.
Tudo é exacto. A ordem do universo é apenas isto.
No pátio escalda a cereja no bico de um pássaro, como a minha indiferença no frio da casa. Uma carpa move a boca inútil como a mulher com frutos vermelhos no regaço que sentada me asfixia com a sua tristeza daninha.
Tudo é exacto. A ordem do universo é apenas isto.