Ninguém escreve bem sobre sexo e é horripilante quando o tentam fazer, descrevendo minuciosamente cada posição, cada gemido, cada movimento, cada alçar de perna, cada mamilo, cada coisa que arrepia, cada poema escrito com a pila, cada melodia erguida com as mamocas, cada sinfonia a quatro mãos, a quatro pés e ao que depois vier, ou o foguetório do orgasmo. O caso agudiza-se quando recorrem ao vernáculo e a expressões mais duras e cruas, convencidos que dali lhes virá força.
Mais se diria, mas o que importa agora é verificar que o dito carece de exemplo.
A Gaffe, saltitando de blog em blog, esbardalhou-se contra aquilo a que se pode chamar uma cuesia de uma senhora que dedicava uma ode à pila do suposto companheiro de alcova - a Gaffe quer acreditar que aquilo não é um cântico ao Soldado Desconhecido.
Distanciada anos-luz de Maria Teresa Horta, a cuetisa vai descrevendo a textura, o formato, a espessura, a rigidez, o tamanho, as manipulações, as manobras e - pasme-se - o cheiro da piloca que idolatra, em rimas de primária escolha e de fácil encontro.
Ficamos com um vislumbre da pila do senhor, um esquiço trôpego, mas elucidativo, desta particular peça anatómica do com certeza envergonhado cavalheiro.
Um nojo, sobretudo quando o olfacto da senhora a leva divagar sobre as delícias proporcionadas pelo vibrar dos pêlos das cavidades nasais.
Uma imagem repelente de uma mulher obcecada por uma pila que segundo a descrição não é lavada há meses.
Estes escritos de índole sexual, esta cuesia pretensamente erótica, nada mais faz do que erguer, hirta e firme como uma barra de ferro, a prova do que a Gaffe afirma. Ninguém escreve bem sobre sexo. Se não se é Maria Teresa Horta ou David Mourão-Ferreira, se não passamos de criaturinhas sexualmente excitadas em súplicas de falo, devemos a todo o custo evitar a cuesia que nos transforma em patéticas obreiras de pornochanchadas convencidas que são o Bob Dylan.
A Gaffe, nestes casos, prefere ler a Maria.