15.11.22

A Gaffe de mãos partidas

Weichuan Liu
Já não levanta os olhos como outrora.
Agora as pálpebras pesam como se arrastassem os que perdeu pelo caminho. O silêncio aguçou-o, ou a luz que recusa.
Agora é como uma coisa que usa, um órgão, um sinal, uma máscara ou uma luva preta. A resignação cresceu como um bicho cego, mas já não raspa o chão com os pés, como se tivesse garras.
Agora está nos olhos mal abertos.

Acompanhei-o à porta. Olhou-me de frente, recuou e abraçou-me como nunca o tinha feito, nunca assim de ferro.
O abraço tinha lágrimas nos dedos.

Vai morrer em breve.

Tinha decidido procurar-lhe a esperança, mas breve descobri que ela não constava do registo.

Fico esmagada perante as poderosas asas que perdemos quando ao longe, mesmo quando o longe é bem mais longe do que aquilo que pensamos, vemos tropeçar no fim os que desistem.
Deixamos de encontrar os nossos braços prontos para agarrar a queda daqueles que nos entram pelo coração adentro, mesmo ao longe que é bem mais longe do que aquilo que quisemos.

Temos as mãos partidas.