6.12.22

A Gaffe estropiada


Chegava a ti de Inverno. Pelo Natal. Tu insistias.

Sempre te amaram a ti. A mais ninguém. Deram-te um nome no momento exacto em que te viram - haste de lírio, jarro, baloiço do meu peito naufragado.
Amaram-te no instante em que pousaram na catedral dos olhos que eram teus - incêndios transformados em lareiras.

Quando não chove, o entardecer de Inverno vem azul trepar às árvores. Levanta-se poalha prateada. Esmaecem os contornos das pedras e dos passos.

- Não! Não vás, avô. Não é preciso nada.
- Não sejas tonta. Eu volto já. Eu não demoro.


O tempo lancetado. Suspensa a vida. O meu alento contigo, atrás de ti, como um cão estropiado.
Quanto tempo era o tempo que amputava? Ficava muda e surda à espera da alma.

Vinhas pela alameda de mimosas, desengonçado e frágil, lentíssima faísca, unir o Tempo.

Um dia vieste e abraçaste-me - braços de pedra, Príncipe do Lago. Era eu menina. Senti na nuca a dor do teu anel. O meu nome na tua boca por três vezes teu, biblicamente três, a estremecer como um minúsculo coração de insecto.
Agora tenho medo do meu nome não soar. Fiquei sem nome.

- Eu volto já.

Ainda espero por mim por entre todos os ramos enredados.