As paredes derrubadas deram primazia à luz branca,
asséptica, metálica, que gela os corpos e entrega aos móveis, cuja
existência se deve ao facto de nenhum poder ser movido, a geometria da
perenidade. Há tarefas definidas para cada um dos objectos e porque a única
preocupação na compra é a função que cada um tem de exercer, todos são limpos e
puros como as obras-de-arte.
Parece frio, incomplacente e demasiado branco. Um espaço de
racional inflexibilidade. Mais pragmático do que minimal. A minha irmã suporta
mal a cor à sua volta. Admite breves tons de cinza, muitas vezes chumbo, muitas
vezes quase nada, o preto, o metal, mas recusa frequentemente outras paletas.
Sempre me pareceu um apartamento vazio - provavelmente pelas ausências longas e frequentes da dona -, como se estivesse eternamente à espera do habitante, até ter encontrado ontem, numa moldura lisa e perfeita, uma fotografia minha, a chispar de cores e riso aberto, grande e de corpo inteiro.