5.5.23

A Gaffe do ministro


A Gaffe está demasiado triste para apreciar a brisa fresca que atenuou o inesperado e acalorado passar da temporada.

Sente uma ternura pintalgada de tristura pelo seu querido Ministro das Infraestruturas que, encostando a porta - não será de estranhar, a partir deste instante, o bater de várias outras - com uma breve leveza ruidosa, à semelhança da habitual indignação dos opositores, se esvai diáfano pelo ralo da banheira onde flutua o restante executivo.

O Senhor Ministro, pensa a Gaffe sacudindo o pó dos joelhos depois da queda monumental que ocorreu depois de tropeçar neste querido, era como um pequeno ursinho de peluche que levamos para a cama para nos salvar do escuro que, de súbito, se transforma no Chucky o boneco assassino, ou numa daquelas criaturas fofinhas que molhadas acabam em tons de verde tenebroso a escacar e a morder a fita inteira.

O Chucky interior do Senhor Ministro já tinha arreganhado em público - ainda era o rapagão um deputado -, os dentes furiosos e sempre teve umas diatribes demasiado gritadas para conseguir arregalar os olhos com uma certa dignidade. Por sua vez, o discreto e contido Gremlin que pulsava dentro do cavalheiro, rompia histriónico em esporádicas sessões parlamentares, tornando-se publicamente arruaceiro. Não era constante, talvez porque a água onde boiava estivesse estagnada e putrefacta há já algum tempo e atenuasse os efeitos previsíveis.

Mas é um querido!

Saiu - ou não saiu? - monocórdico.

Deslizou - ou não? - do governo com a contenção e boas maneiras exigidas, reconhecendo, maroto, que fez aquilo a que uma rapariga poderia classificar como g’anda Merda se não tivesse esta moçoila o tento ministerial revelado pelo ilustre demissionário que afinal não foi. Resvalou pela calçada com a elegância dos génios que assumem que os erros das figuras de estado são inconsequentes, sempre dos outros, e não susceptíveis de penalização. Diluiu-se com uma vontade férrea - mais uma vez na linha da mentira indignada - admitindo que provocou uma ou outra catastrófica cratera na vida dessa gentita que não o elegeu, porque ele é demasiado giro e moderno e só por nomeação daria o seu contributo à excelsa dignidade institucional do governo. Esbateu-se com o ar de menino resmungão irritado por ter cometido uma ou outra gralha e repetido uma ou outra mentirita, subtraindo valores de somenos importância quando há maioria e cascando nos papalvos imbecis e iletrados que lhe deviam submissão.

Não é fofinho?!

A Gaffe fica irritadíssima quando acusam este querido de não ter conseguido fazer pulsar as suas manobrazitas ao ritmo do viver das comissões - ou comissães, como queira S. Bento que das multidães conhece os coraçães. O problema sempre esteve no PC que foi roubado - estas ambiguidades semânticas são uma delícia! - e nas suas aplicações informáticas ou secretas. O patrão deu-lhe razão, inabalável, em consciência e inevitável destino.

Culpem o Windows do Frederico.

No entanto, pese o desgosto, não há qualquer direito a retrocesso, a emenda, a reprogramação ou a outra qualquer palavra que tenha apenso uma espécie de prefixo que implique, mesmo de forma discreta, o retorno, o início, o retrocesso ou o regresso à vida. Não se conseguem corrigir os erritos do senhor ministro.

Apesar da depauperada esperança que teima em sobreviver à sensação de queda fenomenal de um país inteiro num poço sem fundo, a Gaffe teve de ouvir de novo o Presidente:

- Computer says NO!