30.5.23

A Gaffe invejada

Kathy Ager

Uma das características das mulheres pouco espertas é a inveja.

Isto, simplificado e tornado raquítico, é mais ou menos assim: os rapazes gostam de futebol, os gays de ver montras e o mulherio é invejoso.
Não há forma de contornar o assunto e de negar a evidência. Uma rapariga tem entranhada no DNA a capacidade de invejar a outra e é capaz do piorio só para arrasar a parceira. Eleva a inveja ao estatuto de obra-prima. Pode disfarçar com meia dúzias de coisinhas mansas e palratórios amorosos, mas está sempre pronta a picar, a venenosa.

Quando a Gaffe lhes apresentou o qualquer-coisa, as mulheres que conhecia ficaram muito contentes. Porque o qualquer-coisa era um tipo correcto; porque era mais velho do que ela uma data de anos e isso era uma vantagem; porque ficavam radiantes por a ver finalmente estável; porque o amor é lindo; porque - isto era importante - o homem era bem posicionado - embora a Gaffe nunca o tenha achado grande coisa na cama; porque assim arranjava entradas para todo o lado e até porque conhecia o tout Paris.

Uma alegria.

A Gaffe chegou a temer que lhe caísse na cabeça, qual piano tresloucado e solto, aquela felicidade toda. Andou por ali, mas nunca convencida.
Acabou por descobrir facilmente que o mulherio se roía todinho de inveja e ciúme. Aquilo era noites sem dormir a matutar na forma de espantar o homem. A Gaffe percebeu também que os limites para o ataque eram bastante alargados quando o homem começou a receber SMS das ex-namoradas - grande lista que o paspalho tinha -, a declarar que estavam tão felizes que até lhe queriam dar os parabéns pessoalmente e de preferência as duas da manhã atrás das escadas.
Nunca deu grande importância àquilo. Não estava a morrer de amor. Sempre soube defender o que lhe diz respeito e é dela, e, enquanto forem, aqueles que dormem consigo na cama.

Amélia dos olhos doces,
Quem é que te trouxe grávida de esperança?
Um gosto de flor na boca,
Na pele e na roupa, perfumes de França

Quando o qualquer-coisa levou um chuto, as amigas entristeceram todas.
Para trocar de lágrimas organizaram uma festinha com vinhos de todos os lados - as mais pindéricas beberam Coca-Cola - e uma porcaria de queijos franceses ressequidos na casa dum amigo comum, com o qualquer-coisa como convidado de honra, para o rapaz mais facilmente esquecer o desaire.

As cabras.

Pouco tempo depois, a Gaffe conheceu um rapazinho engraçado, com mais ou menos a sua idade. Nada de grave. Tornaram-se grandes amigos. Tudo muito casto e muito recatado. Nada que uma freire não fizesse no escuro da cela, qual Mariana Alcoforado.

Ora o que é que acontece?

Pois é verdade. O mulherio que sim; que agora é que é; que o moço é mais novo; que estão tão felizes que até desatam a disparar orgasmos nas tábuas do povo.
A Gaffe deixou andar. Que se danassem.
Não passaram muitos dias para que o rapaz principiasse a receber em casa convites manhosos para festinhas e para bailaricos e mesmo para os desfiles da saison. A Gaffe nunca os recebeu. Não era extensivo.

Por isso a Gaffe pensa que é melhor começar a ir ao futebol ou a lamber montras. Lamber só, que isto está tudo tão caro como os queijos franceses servidos por cabras invejosas.