20.6.23

A Gaffe com um cheirinho

Um cheirinho a David Gandy por Mario Testino

Publicar ao Deus dará uma quantidade ensandecida de rapagões, desconhecendo-se as casas de chegada, não é matéria susceptível de causar a uma rapariga simpática qualquer rubor. Uma pila com destino incerto, vai parar sempre a um pôr-do-sol distante, mas acolhedor, sem ricochete de grande monta.

No entanto, saber que pela calada de um e-mail enviamos a esplendorosa nudez de alguém, partilhando assim com um grupo restrito a masculinidade seja de quem for, não é tarefa tão simples como promete. Diz-nos o juízo que facilmente poderemos passar por impositivas sabujas a atirar à cara de quem mal conhecemos - mas que identificamos, mas que particularizamos -, a pila de um estranho que nos encheu os olhos - suspeito que esta frase terá de ser revista. Como é de prever, não é de todo educado e de bom-tom esbardalhar miudezas destas contra a incauta face de uma inocente criatura que conta pelo menos com um paninho esvoaçante na frente da agressora.
É estranho o facto de nos tornarmos capazes das maiores barbaridades quando os espectadores são anónimos, inócuos, distantes, amorfos e com uma opinião que não nos afecta ou nos deixa indiferentes, mas somos comedidos e cautelosos quando esses mesmo espectadores se tornam mais próximos e ganham uma importância capaz de refrear os nosso desmandos.

Creio que esta é uma das desvantagens da amizade, mesmo aquela que se constrói aqui nestas Avenidas: a nossa mais jocosa irresponsabilidade, a nossa mais tonta infantilidade, dá lugar a uma espécie de respeitoso pudor, de civilizada empatia, que nos fica bem, mas que nos coíbe de mostrar a pila.