21.6.23

A Gaffe variegada


É um facto incontornável. A mistura de padrões e de texturas instalou-se há muito tempo nos actos favoritos da Gaffe e, desde que não provoque um efeito trompe-l’oeil, é considerada sempre uma aposta absolutamente fascinante, dinâmica e muito apelativa.

Não acreditando que o quotidiano mais banal consiga uma conjugação de excelência, imediatamente reconhecida como certa e inteligente, a Gaffe sugere, para uma aproximação de sucesso, que se escolha o fabuloso Alan Cumming que em Instinct usa e abusa de modo exemplar da panóplia de efeitos que se vão aliando e sobrepondo.

O resultado é divino!


Cummings sempre foi exímio em provocar uma sensação de maior descontracção, desconstrução e acolhimento morno e confortável, características que estão normalmente ausentes nos gelados cinzentos e azuis monocromáticos dos tecnocratas actuais.

Aliada à conjugação de vários padrões, surge, vinda de diferentes áreas do saber vestir, a mistura de peças que, na origem, configuram ou complementam uma imagem bem definida e facilmente decifrável.
As fronteiras entre o que se apelida clássico e o casual são esbatidas, não só por esta miscelânea inteligente e ordenada, mas também pelas cores que se escolhem queimadas ou propositadamente contrastantes e, num primeiro lance, de aliança paradoxal.
A nobreza clássica dos tecidos e o rigor de acessórios tradicionais - as gravatas são magníficas -, acompanha na perfeição o renovado e actualizado sobretudo, próximo do tradicional, que usado pelo actor cumpre o papel de subtil transgressor aliado a pormenores oriundos de outras paragens com sabor nómada e mais irreverente.


A coordenação de padrões aparentemente incompatíveis, ou no mínimo a mistura aleatória dos mesmos, é quase proibida nos conservadores cavalheiros que pululam nos gabinetes onde os destinos de um incontável número de gente se padronizam. A proposta de Cummings é atraente, sedutora, inteligente e convincente. Não há nada mais sensual como ter a oportunidade de enlaçar o melhor de dois mundos.

Há, quase inconsciente, a regra que indica aos citados cavalheiros que a cor menos nítida nos padrões usados, é aquela que deve ser usada nas peças que se vangloriam da cor única que ostentam. O subtil vermelho do conceituado Burberry é, sob a alçada desta orientação, a cor escolhida pelas peças que coadjuvam o restante conjunto.
Esta perspectiva limita a possibilidade de se ser divertido. São fechadas portas à criatividade e à ostentação discreta de inteligência que torna a junção de padrões eventualmente distintos e incompatíveis, num processo claro de demonstração de personalidade e de vínculo a uma das mais extraordinárias capacidades que temos: a de criar regras, para depois as transgredirmos.

Os ensaios múltiplos são essenciais ao bom resultado, não há nada como começar devagar, timidamente, para se atingir um orgasmo absolutamente sobrenatural.

Rapazes, usem e abusem, de forma inteligente, da harmonia que resulta da construção do caos. Lembrem-se que é do Caos que geralmente a Ordem se afirma e que sempre foi uma maçada para uma rapariga esperta ter perto dela a monotonia cinzenta de um homem sem qualquer infractora e atrevida nuance.