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Luis Quiles |
São cansativos, porque de inutilidade extrema, os debates que versam a rivalidade entre o livro impresso e o ebook.
Cheiram a suor e têm mau hálito.
A Gaffe sempre considerou que a existência destas duas variantes da leitura se aproxima, sem que ninguém dê grande importância, ou se desunhe em defesa de uma das damas, com a presença do sexo nas nossas viditas.Salvo raríssimas excepções, toda a gente reconhece que existe o sexo virtual e aquele que fazemos no aconchego do lar - convém, neste caso, entregar a lar um perfume polissémico. A Gaffe suspeita que apenas uma minoria do planeta se dedica em exclusivo à primeira modalidade - por norma gentes assustadores que usam óculos bifocais -, mas admite que a maioria do mesmo globo já espreitou, pelo menos, as maminhas - ou a pilita - do manequim apanhado por um paparazzi a praticar com alguém o que os eremitas costumam fazer sozinhos. A Gaffe, por exemplo, admite que já espiou a piloca do David Gandy. O argumento da falta de qualidade virtual, não dá dividendos. A imagem do David Gandy nu é abençoada.
Coexistem as modalidades, sem que por isso venha mal - ou bem -, ao mundo, embora o verbo vir adquira também neste caso um valor polissémico. Há quem goste de snifar as páginas dos livros, há quem aprecie lamber o monitor. Como diria o isabelino, tudo está bem, quando acaba bem.
A discussão ebook versus livro impresso, não vale mais do que isto.
Já escrever em qualquer destas duas modalidades - digamos que de modo lúdico - sobre sexo é um problema gravíssimo.
Ninguém escreve bem sobre sexo, seja onde for, de que forma for e no suporte que se quiser.
É horripilante quando o tentam fazer, descrevendo minuciosamente cada posição, cada gemido, cada movimento, cada alçar de perna, cada mamilo, cada coisa que arrepia, cada poema escrito com a pila, cada melodia erguida com as mamocas, cada sinfonia a quatro mãos, a quatro pés e ao que depois vier, ou o foguetório do orgasmo. O caso agudiza-se quando recorrem ao vernáculo e a expressões mais duras e cruas, convencidos que dali lhes virá força.
Ninguém.
Se Maria Teresa Horta ou David Mourão-Ferreira correm belíssimos riscos, a esmagadora maioria dos escritores de eleição evita descrever o que sabe que resvala com uma facilidade inacreditável para o patético - Lídia Jorge chamou à piloca espingarda de carne...-, ou mesmo com um rasto de pornografia disfarçada. Quando é o comum dos mortais, quase analfabeto, a tentar escalar este Everest, é-nos oferecido um rato morto em avançado estado de decomposição.
A Gaffe suspeita que, em matéria de escritas e de sexo, o ideal é manter tudo no lugar devido e cuidadosamente separado, até porque a época de incêndios, sobretudo nas redes sociais, é permanente e quem está habituado a roer couves não consegue perceber a existência dos tomates - a Gaffe suspeita que tem de rever esta última frase.
Tolices.
Ninguém.
Se Maria Teresa Horta ou David Mourão-Ferreira correm belíssimos riscos, a esmagadora maioria dos escritores de eleição evita descrever o que sabe que resvala com uma facilidade inacreditável para o patético - Lídia Jorge chamou à piloca espingarda de carne...-, ou mesmo com um rasto de pornografia disfarçada. Quando é o comum dos mortais, quase analfabeto, a tentar escalar este Everest, é-nos oferecido um rato morto em avançado estado de decomposição.
A Gaffe suspeita que, em matéria de escritas e de sexo, o ideal é manter tudo no lugar devido e cuidadosamente separado, até porque a época de incêndios, sobretudo nas redes sociais, é permanente e quem está habituado a roer couves não consegue perceber a existência dos tomates - a Gaffe suspeita que tem de rever esta última frase.
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G. Haderer |
Tudo piora quando é feminina a escrita sobre sexo. Neste caso, pensa o povo, feminina equivale a prostituta. As línguas de fogo purificador contaminam todas as plataformas e não raras vezes as faúlhas que tombam nos descampados são tomadas por ameaças de devastação inflamada e catastrófica, oriundas de manifestações escandalizadas que já se previam e que incluem mesmo acusações de se ter escrito, seja em que suporte for, um ensaio ou manifesto anti-feminista, ou apelos sublimados à violência doméstica.
Se nos braços incandescentes de um homem a Gaffe ondular, de olhos revirados e língua de fora, suplicando numa voz cava saída das entranhas mais recônditas:
- Rasga-me as vestes e chama-me tola!
Não está, seja de que perspectiva for, a defender a violência doméstica. Está a precisar de um exorcista, de alguém que a ensine que não se estragam numa noite as peças YSL e que não se deve tratar por tu uma pessoa que não conhecemos bem.
Se a Gaffe vê sofregamente beijado o seu rabinho, não acusa o beijoqueiro de tentar esconder a sua homossexualidade, disfarçando no seu rabiosque um desejo grego antigo, atentando dessa forma contra os direitos da comunidade gay.
Se sugerem à Gaffe pela calada da noite e ruídos dos lençóis, acrobacias inspiradas - embora comedidas - em tratados velhos e marotos, esta rapariga é incapaz de concluir que foi para a cama como o Cirque du Soleil.
Se a Gaffe vê o pindérico do Diogo Morgado de barba rala e vestido de Dulce Pontes a pedir para que deixem vir a Ele as criancinhas, não é capaz de lhe esbardalhar o nome na montra da mercearia a avisar que anda pedófilo no parque.
Controlem-se, vá.
Se continuam a bacorinhar que escrever sobre sexo - num ebook, numa pedra, nas pirâmides, em coisas pontiagudas, ou afins -, revela um apoio a formas patológicas de agir, um forma descarada de não se saber estar - quando aquilo tudo está apenas e sempre mal escrito -, a Gaffe espera que quando forem pela primeira vez à praia não desatem num gritedo, a cantar hinos de louvor a Deus pelo milagre a que assistem quando deparam com um homem a deslizar sobre as águas.
Na esmagadora maioria das vezes é só o McNamara. No ebook do costume no mosteiro.
- Rasga-me as vestes e chama-me tola!
Não está, seja de que perspectiva for, a defender a violência doméstica. Está a precisar de um exorcista, de alguém que a ensine que não se estragam numa noite as peças YSL e que não se deve tratar por tu uma pessoa que não conhecemos bem.
Se a Gaffe vê sofregamente beijado o seu rabinho, não acusa o beijoqueiro de tentar esconder a sua homossexualidade, disfarçando no seu rabiosque um desejo grego antigo, atentando dessa forma contra os direitos da comunidade gay.
Se sugerem à Gaffe pela calada da noite e ruídos dos lençóis, acrobacias inspiradas - embora comedidas - em tratados velhos e marotos, esta rapariga é incapaz de concluir que foi para a cama como o Cirque du Soleil.
Se a Gaffe vê o pindérico do Diogo Morgado de barba rala e vestido de Dulce Pontes a pedir para que deixem vir a Ele as criancinhas, não é capaz de lhe esbardalhar o nome na montra da mercearia a avisar que anda pedófilo no parque.
Controlem-se, vá.
Se continuam a bacorinhar que escrever sobre sexo - num ebook, numa pedra, nas pirâmides, em coisas pontiagudas, ou afins -, revela um apoio a formas patológicas de agir, um forma descarada de não se saber estar - quando aquilo tudo está apenas e sempre mal escrito -, a Gaffe espera que quando forem pela primeira vez à praia não desatem num gritedo, a cantar hinos de louvor a Deus pelo milagre a que assistem quando deparam com um homem a deslizar sobre as águas.
Na esmagadora maioria das vezes é só o McNamara. No ebook do costume no mosteiro.