25.5.24

A Gaffe elementar


Ocultamo-nos como conseguimos no meio das chamas. O desequilíbrio faz-nos tombar sobre a lâmina e o interior do lume corrói as pedras que amontoamos em castelos de cartas.

Todo o abismo deve ser atravessado com um salto apenas. Não há lugar para dois passos pequenos, mas existe a lâmina, a falha das sandálias de Mercúrio ou o calcanhar do herói que ninguém é.
Protegemo-nos, ou com o corpo, erguendo dele e nele a fortaleza que suplicamos no interior de nós que seja inabalável, ou escudamo-nos com o Pensamento erguido pelos Sábios, construindo nele o pensamento nosso, como se nele e dele houvesse salvação.

Podemos encontrar o poço mais fresco do deserto e mesmo assim a sua água não nos matar a sede.

Mas quando um peixe se move, turvam-se as águas. Quando um pássaro voa, uma pena. A erva cresce e não damos por isso. Colhemos flores e as nossas mãos ficam perfumadas.
Mas basta a nossa mão de terra em concha recolhendo a água para que a lua nos tombe nos dedos.

Porque somos a água, o ar e a terra sobre o fio de uma espada.