19.5.24

A Gaffe a olhar

O Amor é igual em todo o lado e em todo o lado se pode ser pateticamente apaixonado.
Ficar parada e sozinha, onde tudo se torna mais tristonho é uma como flutuar numa esplanada de Inverno. Ficamos com os olhos presos aos movimentos mais ínfimos que fazem ondular a superfície branda onde pousamos.
O casal, o único sentado à minha frente, está fluvialmente apaixonado. Molha-nos com a água que lhes vidra os olhos.
Se usarmos todos os insuspeitos trunfos, todos os mais escabrosos estratagemas, todas as mais vis e malignas insinuações, todas as mais planeadas promessas, das mais subtis às mais desavergonhadamente descaradas, não os afastaremos um do outro.
O rapaz tem colados os olhos no rosto da mulher que traz todos os planetas pendurados nas pestanas.
A rapariga, mais tímida, afasta brevemente o olhar do centro do Universo, no ponto exacto onde se vê reflectida, para logo a seguir procurar de novo os espelhos dos olhos do homem.

Será que o Amor de tanto se olhar, se transforma em Narciso?