3.6.24

A Gaffe dos impossíveis


Se a Gaffe fosse instada a indicar as 10 coisas que nunca fará na vida. Apesar de renitente, eis o seu rol de impossíveis.

 I

Mudar de sexo


Não que me aflijam cirurgias complicadas, mas a Gaffe receia que, após a alteração, acabe a envelhecer com um morcego morto no meio das pernas.

 II

Ser mãe

Morram de indignação os baby blogs. Atirem esta rapariga à fogueira dos seus úteros fecundos e extasiados. A Gaffe cedo ou tarde transformar-se-á numa rainha ruiva, rabugenta, seca e furibunda, sem paciência até para continuar a pensar que deviam ser presas as senhoras que são donas de blogs onde se vendem os filhos.

III

Comer caracóis e pipocas

Não necessariamente ao mesmo tempo. A Gaffe foi proibida pela mãe de morder até os seus e a sua avó considera que comer pipocas é sintoma de um transtorno de personalidade que afecta as pessoas que não conseguem deixar de mastigar o cérebro enquanto impedem que alguém tente compreender o que se passa.

IV

Nudismo

Se o sol escalda o narizito da Gaffe exposto todo o ano, esta rapariga recusa imaginar o que faria ao seu rabinho perfeito que decididamente nasceu voltado para a lua.

V

Ler Margarida Rebelo Pinto

O avô ensinou-a que mais vale jejuar como um anacoreta que passar os olhos por uma gastroenterite.

VI

Cozinhar

Exceptuando o mais banal, o mais aflitivo e o mais constrangedor, a Gaffe não vai aprender a cozinhar. A confecção das iguarias do Norte está vedada à sua proficiência, com grande desgosto seu e ainda maior apetite. A única vez que a Gaffe tentou cozinhar um rolo de carne com ameixa, pensaram que tinha incendiado a casa e que estava a tentar fazer com que alguém engolisse os cavacos calcinados. A cadela vomitou durante uma semana.

VII

Mudar de perfume

Depois de encontrar o que nos pertence, não o conseguimos trocar, por muito agradável que isso seja. A Gaffe deixou de sentir o seu em si, mas percebe quando se esquece de o usar pela manhã. Quando lhe dizem que já sabiam que tinha chegado, porque sentiram o seu perfume, a Gaffe suspeita sempre que se ensopou e que vai ter de distribuir máscaras químicas.

VIII

Deixar de amar Paris

Paris tem os mais belos sorrisos do planeta.
Tem luz doirada e azul no final da tarde e cafés com mesas pequeninas nas esquinas redondas das ruas que a perdem e onde pousa a vida como quem se esquece de dormir.
Domar Paris é como ter um gato ou molhar o corpo com o azul dos anjos.
Paris é sua! Desde que a viu, há já muito tempo.
Sabe o que ela quer e dá-lhe tudo: Um rasto de Dietrich, azul e ruivo; um traço de Dean, sem causa, apenas rebeldia; um risco de mistério emoldurado no traçar de pernas instintivas e o caixilho doirado e perfumado de um corpo.
Em Paris a Gaffe é o que cidade exige: Uma obra sua. O destino é o Louvre.

 IX

Esquecer um lema

Se não sabes o que queres, entra. Eu tenho.

Um amigo encontrou-o perdido há muito tempo. Não se esquecem Amigos a partir do instante em que os reconhecemos - os amigos não se fazem, reconhecem-se - e a Gaffe  nunca soube exactamente o que queria, mas sabia que ele tinha.

X

Morrer de amor

Só no Père-Lachaise.

 

Na foto - John Cleese - Monty Python - ou a Gaffe a ilustrar a alínea n.º 1