12.7.24

A Gaffe a envelhecer


A Gaffe, num tempo que já lá vai, estabeleceu que o seu envelhecimento seria de cinco em cinco anos, ou seja, fez 20, 25, 30, 35 fará 40 e por aí fora, se chegar a idade tão provecta.
As idades intermédias não contam. São períodos de aprendizagem que apenas se solidifica se entre eles deixarmos intervalos de tempo razoáveis.

Posto isto, fica claro que a Gaffe não tem a idade certa para se tornar uma eremita - coisa em que se transformará aos 95 -, mas também já não consegue andar por aí a abanar pevides por entre a multidão.
Está naquilo a que se poderá chamar limbo, que, segundo a Igreja Católica Apostólica Romana, é um lugar fora dos limites do Céu onde se vive a plena felicidade natural, mas privado da visão beatífica de Deus. O Céu estará, de acordo com esta linha de pensamento e com a de Judy Garland, algures entre o início e o fim do arco-íris. O entremeado é o limbo e não dá direito a ida ao cinema nem à visão de faces beatíficas.

Isto de envelhecer aos soluços tem que se lhe diga. O tempo custa a passar e sobe-nos à garganta a sensação do vácuo existencial - critica um amigo - sempre que nos perguntam a idade. No entanto, aprendemos, nos intervalos da chuva, a perceber que o que é aborrecido não é passar a vida a soluçar, é arranjarmos uma embalagem de lenços de papel em condições, para limpar o muco e as lágrimas - de choro e de riso - que nos encharcam o chão que vamos pisando.

A nossa vidinha nunca é tão boa, nem tão má como pensamos. Vivemos nos intervalos.