A mulher passa no passeio da Avenida e vejo-a passar de canastra à cabeça. Sem mãos, como eu mais pequena passava na Avenida de bicicleta, também sem mãos no fio do equilíbrio.
Peixeira de coturnos pretos sem pregão, que levas à cabeça a tua sina como se andasses de bicicleta, ensina-me a passar na Avenida com um pedaço de mar à cabeça sobre a alma enrodilhada.
Diz-me como se atravessam as ruas de coturnos pretos nos pés, ruas de canastra sem mãos a oscilar e meia dúzia de ondas cobertas com telas de navios.
Diz-me como entras no meu quarto a gingar a alma de canastra e atravessas os vidros da janela no fio do equilíbrio como se andasses de bicicleta e eu fosse ainda menina.
Diz-me com se passa na Avenida com ondas na cabeça cobertas por um lenço preto por onde passa a bicicleta com rodas de meia dúzia de peixes sem mãos.
Diz-me como se torce o farrapo de navio que equilibra a canastra na tua cabeça e ensina-me a atravessar as ruas como se fosse menina outra vez, porque a minha alma sem mãos é a tua rodilha.