Confesso que Shakespeare sempre me assusta um bocadinho e este macabro príncipe dinamarquês é uma das suas figuras mais ínvias, mais esconsas e mais complexas, sem nunca deixar de ser uma das mais perfeitas criações literárias de toda a Literatura universal.
Ninguém como Hamlet, em página conhecida, atravessa a loucura, real e imaginária, tocando aquilo que é opressivo, sofrido ou em fúria. Ninguém é tão angustiantemente vingativo, amoral e imoral, retendo nas mãos em simultâneo uma espécie de ética individualizada arrasadora e muitas vezes mórbida.
Sempre me incomodou imaginar este príncipe que acaba por entregar, de acordo com a crítica, a coroa da perfeição literária à peça mais longa de Shakespeare. Sempre tive algum receio de o visualizar. Esperava sempre que me entregassem as visões que encenadores e realizadores dele tinham, até que de repente me desfaço contra o único Hamlet que acolheria sem sombras e sem peias no meu principado. Não é propriamente muito soturno, mas tem a caveira para balançar.
Depois disto, nenhuma rapariga esperta é capaz de dizer que ler não é sexy.
Depois disto, nenhuma rapariga esperta é capaz de dizer que ler não é sexy.
na fotografia - Carmelo Blazquez Jimenez