A minha paciência é uma mulher de
sorriso imóvel e mudo. Usa avental branco e saias rudes de fazenda espessa,
compridas e rodadas. Tem um rosto redondo e pequenas rugas fixas nos cantos dos
olhos poucas vezes fixos nos que a olham e unhas sujas de terra e de descascar
batatas. É ligeiramente curva e traz um xaile cinzento esburacado a cobrir-lhe
a indiferença.
Cheira a sabonete.
A minha paciência faz trabalhos de casa. Cose, remenda,
emenda, cozinha, esfrega os soalhos, engoma e asseia os quartos, serve o
pequeno-almoço nas camas e estende a roupa depois de a lavar nos tanques com
sabão antigo, cuida da louça e está atenta ao brilho das peças de prata.
É silenciosa.
A minha paciência faz as camas onde se deitam os outros.
Aconchega-lhes os lençóis, murmura-lhes histórias até que adormeçam. Apaga as
luzes e encosta as portas. Depois, por entre a noite, a minha paciência sobe as
escadas, entra nos quartos descalça e, em bicos de pés, começa a
estrangulá-los.