11.5.21

A Gaffe da bela Inês

Maurizio Di Iorio

A Gaffe tem de transcrever a escuta que fez à fofíssima Inês Pedrosa, só para se congratular pelo que lê, vazado do que soa, a propósito daquela espécie de estrangeirismo, com uma gradezinha no início, chegado a Portugal - não sabemos se em barcaça de juncos, se em insuflável, como tudo o que é péssimo usa agora para chegar a um país civilizado.

A Gaffe está ao lado de Inês Pedrosa, porque admite que também ela perde imensas oportunidades de aguentar a tansa da boca fechada, pese embora, no seu caso, não ser paga por isso.

- (...) Imaginemos que o fim da escravatura era os negros passarem a escravizar os brancos. É nisto que estamos agora, vamos usar um esquema de terror (…), o que se pretende é arrasar reputações. Devia haver a sororidade prévia de garantir que há 10 acusações para [a acusação] ser sólida.

A Gaffe está solidária com a Inês que posta em desassossego pelo #metoo, rasga as vestes pelo amigo de há imenso tempo - uma pessoa de bem, por quem entrega as coisas ao fogo, um intelectual de renome, um servidor da bela arte de editar, um cavalheiro a toda a prova e trote -, agora denunciado, acusado de assédio, por uma megera doida que entretanto já conseguiu apaniguadas, uma quantidade substancial de sequazes neste péssimo vício de destruir reputações masculinas por dá cá aquela palha. Mentirosas!

Se desancarmos imenso nestas ratas vingativas, se nos amotinarmos desgrenhadas contra o irrisório, o caricato, o ínfimo número de falsas acusações, temos, no bolo todo, garantida a segurança da cereja dos amigos, pois que os amigos não são para acusar! Não é que Inês pretenda liderar uma honesta e justa caça às bruxas - não é, de todo -, pois que se trata mais de um apanha bicho. Um terror. Uma falta de chá.

Falta por falta, escasseiam as outras nove acusações para ser possível aceitar que é provável que o rapaz se tenha descaído e tentado roubar um beijo - muito fin de siècle - à fedelha que estava a pedir muito mais do que isso, dados os preparos - sendo que derivado aos preparos também se tornou um atentado ao pudor e meio caminho andado - Deus e a mulher sabem muito bem para onde, que aqui ninguém é ingénuo, que olé, picolé - diz o povo, embora parvamente, é certo.

Seguindo a sugestão de Inês Pedrosa, os Tribunais receberiam os assédios, gota a gota, pingo a pingo, faziam pacotinhos, carimbavam os cartões e, ao fim de dez, ofereciam um desconto. Seria a situação mais prática e evitaria que até mesmo Rodrigo Moita de Deus, que não prima pela defesa de causas, ficasse perplexo, vacilante e aturdido, perante o protesto da senhora contra as megeras oportunistas que arrasam reputações - e a Gaffe acrescenta que vai bem e a eito -, lares e casamentos.

Como Inês Pedrosa, também Raquel Varela parece - podendo não ser, pois que o parecer deve vir a dez para solidificar a enunciação -, ciciar o que nos rememora o lamento em relação às mulheres, os homens agora já não podem fazer nada. A Gaffe vai esquecer, em nome da sororidade, que não sabe quando foi que as mulheres autorizaram que os homens lhes fizessem tudo.

Esta rapariga assume que está com elas, como as iscas, e também acredita que é suspeito o tempo que as outras levam a abrir o bico - embora neste contexto se torne conveniente reformular a frase. Uma suposta assediada deve denunciar o eventual caso de assédio dentro do prazo que as pessoas de bem estipularam pra tal. Não é quando lhe dá para aquilo - pois que se corre então o risco de importunar e injustiçar senadores que são muito cá de casa, amicíssimos, de boas famílias e tantos tão bem colocados.

A Gaffe reconhece que a menina é, irremediavelmente, uma escritora de segunda linha e talvez seja por isso que coloca as mulheres assediadas nesse mesmo patamar de qualidade, mas mesmo assim, Inês, minha querida, seria interessante que se apercebesse que a mulher trancada nos limites que nos aponta, pode ser, também por si, emudecida definitivamente.

Pelo menos, minha querida Inês Pedrosa, ficamos a saber que a menina é abolicionista. A Gaffe supõe apenas se os escravos não forem os de lá de casa.