13.7.21

A Gaffe desacelerada

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Suponho que a mais eficente forma de fazer desaparecer o importante, é incutir-lhe velocidade. Nada é mais eficaz, nos tempos que correm - e correm depressa -, do que fazer com que a aceleração com que se comunica um facto, uma verdade, ou um acontecimento, seja de tal forma alta que tudo o que deles – verdade, facto ou acontecimento -, é relevante, necessário ou principal, seja desmemoriado ou amortecido num brevíssimo instante – dos cem aos zero -, tornando o esquecimento a normalidade, a banal vivência quotidiana.

A sucessão em catarata de narrativas diversas, aliada à brutal velocidade com que a diversidade do real nos é revelada, esvazia o acontecimento de importância e encurta drasticamente o tempo de atenção que é indispensável ao mostrado. Deixamos de ter tempo para parar perante a notícia - ela própria sem tempo de vida que permita o nosso -, perante a catastrófica sucessão de minúsculas e insuficientes durações de análise.

O importante, quando acelerado, deixa de o ser. A velocidade degrada o principal. Todos os sacanas o sabem.

É nesta aceleração contínua da vida, da forma como se vive, que o tempo permite que a medida que é usada para intervalar gerações se degrade e se torne obsoleta, inútil, falseada. Uma geração é separada da seguinte não por duas ou três décadas, como habitual, mas pelos escassos anos em que a velocidade da vida foi de tal ordem que esmagou a possibilidade de assumirmos a morosidade exigida ao crescimento e mesmo ao envelhecer. Os abismos geracionais são montrengos cada vez mais densos e abrem-se com intervalos de tempo cada vez menores. 

Talvez por isso a lentidão, indolência, a demora, com que deste velho Douro avança pelas varandas dos socalcos, faça com que o compasso destas gentes permaneça importante, essencial, quase divino e com que o peso e o alento das horas seja paulatino e dê tempo ao tempo que se vive.