David Uzochukwu |
Arranca da beleza o idílico, a pele bucólica, lírica, arcadiana, que cobre a tua visão do estranho - do que fora de ti, existe em ti na distância -, enformando o talho com que olhas o que te chega das vidas de quem não sabes nada.
Retira o slogan, o lugar-comum, o cartaz emotivo e emocional, a indiferença apaixonada de quem não vive aquilo, a ordinária fantasia do postal do turista amante da paisagem e da ternura rude do lavrar das horas olhadas com olhos de floração do seu próprio sonho.
Extrai a tua visão de postal ilustrado, alvacenta de mentir, viscosa e pegadiça, da paisagem que pensas que sentes ver e das gentes que erguem a outra que mascaras.
Corrompe as palavras adocicadas com que descreves o ancestral habitat dos pobres, da terra e do seu cheiro molhado, da infância dos penedos, dos risos dos pássaros, dos rios que correm na tua aldeia, as dulcificadas palavras da condescendência e das distâncias etnográficas com que vestes a intrínseca brutalidade do que olhas, não vendo.
O que te restará então será apenas um lancinante pedaço de Dor que nem sequer é tua.
O que te restará será a tua ignorância colorida a bicar o teu ingresso na inútil memória do inventado.